As perdas com as aplicações em fundos sob a gestão de Bernard Madoff, ex-dirigente da bolsa Nasdaq preso na semana passada por liderar um esquema de pirâmide financeira, têm preocupado investidores brasileiros de private banks, áreas das instituições financeiras voltadas para gestão de fortunas. As possíveis perdas são alvo de intensa especulação no mercado financeiro. Estima-se que o prejuízo de brasileiros com esses investimentos pode chegar a US$ 2 bilhões.
O principal canal de exposição aos fundos da Bernard L. Madoff Investments Securities eram as aplicações feitas no Fairfield Sentry Fund, hedge fund da Fairfield Greenwich Group, que tinha como um dos sócios Walter Noel, casado com a brasileira Mônica, irmã do carioca de origem suíça Alex Haegler. De acordo com o site do Fairfield, o fundo tinha como representante no Brasil Bianca Haegler, filha de Alex. Fontes consultadas pela Gazeta Mercantil afirmam, porém, que o fundo também era oferecido por bancos locais.
Em nota, o Fairfield Greenwich Group (FGG) comunica que tomará as medidas jurídicas cabíveis para defender os interesses do grupo e de seus cotistas, vítimas do esquema de fraude da firma de Madoff. O FGG informa que não tem agente ou representante no Brasil e apenas dispõe de um consultor de negócios. Os recursos sob gestão do FGG em 1 de novembro de 2008 somavam cerca de US$ 14 bilhões, dos quais US$ 7,5 bilhões estavam aplicados em fundos da gestora de Madoff.
Até o momento, a única instituição brasileira a admitir que ofereceu produtos de Madoff foi o Safra. Procurado pela reportagem, o Bradesco negou qualquer exposição de seus clientes a fundos que aplicavam recursos em produtos administrados pelo escritório do ex-presidente da Nasdaq. Por meio da assessoria de imprensa, o Unibanco afirmou que \”jamais distribuiu, ofereceu ou recomendou o fundo Fairfield\”. Já o Itaú informou que não comentaria o assunto.
Especificamente no caso do Santander, fontes relatam que clientes brasileiros da área de private banking estariam entre os investidores do Optimal, da gestora de hedge funds da instituição que possuía uma exposição de US$ 3,1 bilhões em ativos administrados por Madoff. Questionada pela reportagem, a assessoria do banco em Madri informou que em nenhum momento o Optimal foi oferecido pela unidade brasileira, mas reconheceu a possibilidade de existirem brasileiros entre os clientes que aplicaram no fundo por meio de escritórios do grupo espanhol no exterior.O HSBC informou que nunca ofereceu a seus clientes do Brasil e do exterior produtos financeiros administrados por Madoff. O banco informa, ainda, que a sua divulgada exposição de US$ 1 bilhão ao fundo em questão refere-se a garantias de financiamentos dadas por clientes institucionais. O BNP Paribas, que estima perdas potenciais de US$ 470 milhões, informou que não distribui na área de gestão de recursos do banco no Brasil nenhum fundo que aplica em produtos da gestora.
Outro que anunciou perdas com o esquema de fraude construído por Madoff foi o banco suíço Banque Bénédict Hentsch, que informou exposição de aproximadamente US$ 47,8 milhões aos produtos de Madoff. O banco havia se associado à Fairfield Greenwich em setembro deste ano, mas cancelou a parceria em 14 de dezembro, após o anúncio das perdas da Fairfield com os produtos de Madoff. \”A nossa exposição aos produtos de Madoff são de investimentos próprios e não da parceria com o Fairfield\”, ressalta Bénédict G.F. Hentsch, fundador do banco.
Hentsch atuou durante dez anos no Brasil, onde trabalhou no J. P Morgan. Em seu site da internet, o banco suíço afirma conhecer o mercado brasileiro e as oportunidades de negócios entre os dois países. \”Banque Bénédict Hentsch quer ser o elo de ligação (sic) entre este rico país e a Suíça, país reconhecido pela comunidade financeira internacional, por sua neutralidade e seriedade, oferecendo segurança física, jurídica e financeira sem precedentes com outros países\”, informa o site. Hentsch, porém, não confirma se o banco atende clientes brasileiros, nem se parte dos US$ 47,8 milhões com produtos de Madoff envolvia recursos do Brasil.(