Bernanke descarta estatização iminente de bancos nos EUA

O presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano), Ben Bernanke, rejeitou a ideia de que o governo dos Estados Unidos planeja usar as revisões nos balanços dos bancos como pretexto para assumir o controle das maiores instituições financeiras do país. O Tesouro comprará ações preferenciais conversíveis dos 19 maiores bancos norte-americanos se os testes de estresse determinarem que eles necessitam de mais capital para um cenário de recessão econômica ainda mais profunda, disse Bernanke em depoimento ontem no Congresso. Mas as ações só devem ser convertidas em ordinárias (com direito a voto) se as perdas extraordinárias se materializarem, afirmou.

\”Não vejo nenhuma razão para destruir o valor das marcas ou criar grandes incertezas legais em uma tentativa de nacionalizar um banco quando não for necessário\”, disse Bernanke, ao comitê bancário do Senado.

Bernanke ressaltou que os bancos norte-americanos precisam de capital de alta qualidade suficiente para passar pela recessão pior que a prevista anteriormente. Ele disse que os principais bancos do país cumpriram os padrões regulatórios, mas podem precisar de diferentes tipos de ajuda de capital, incluindo mais ações ordinárias, para garantir que eles continuem operando se as condições piorarem dramaticamente.

\”Queremos assegurar que eles tenham capital de boa qualidade e que uma parcela suficiente do capital seja em ações ordinárias e não em outras formas de capital\”, afirmou. Os reguladores norte-americanos darão início na quarta-feira a um exame minucioso dos bancos para ver se eles conseguem se manter em um horizonte de dois anos se a economia caminhar para o pior, elevando as perdas com os empréstimos e o desemprego mais do que o esperado atualmente.

Se esse teste mostrar que a empresa precisa de mais capital, ela pode primeiramente tentar obtê-lo no setor privado e então procurar ajuda do governo na forma de ações preferenciais que se convertam em ações ordinárias. Quando o Tesouro norte-americano começou a injetar capital nos bancos no ano passado, pegou ações preferenciais em vez das ordinárias. Dado o interesse em ações ordinárias, o governo agora prefere deixar que as empresas eventualmente convertam ações preferenciais em ordinárias.

Fontes disseram à Reuters na segunda-feira que o Citigroup estaria considerando fazer esse movimento e estaria em conversações com o governo para converter até US$ 45 bilhões em ações preferenciais. Na segunda-feira, o novo presidente do conselho de administração do banco, Richard Parsons, esteve segunda-feira na Casa Branca, o que aumentou as especulações sobre a estatização da instituição financeira.

Bernanke disse que não há uma questão sobre se as empresas passarão ou não nos testes dos reguladores. Os testes são uma forma de avaliar qual o nível e o tipo de capital que cada empresa precisa para manter o fluxo normal de empréstimos. O presidente do Fed acrescentou que a conversão de ações ocorreria apenas se houver a necessidade de fornecer um colchão contra uma eventual aceleração das perdas dos bancos. Um dos efeitos da conversão das ações é o governo obter o controle da empresa, acabando por nacionalizar os bancos.

Bernanke disse ainda que a economia dos EUA corre o risco de entrar em um processo de fraco crescimento e dificuldades no mercado financeiro se o sistema bancário não for estabilizado. \”Se as medidas tomadas pelo governo, pelo Congresso e pelo Federal Reserve forem bem sucedidas em restaurar de alguma forma a estabilidade financeira – e só neste caso, na minha opinião -, há uma chance razoável de que a atual recessão termine em 2009 e que 2010 seja um ano de recuperação\”, afirmou.