A evolução da carreira dos auditores internos não depende da análise de processos específicos, mas do desenvolvimento de uma visão mais abrangente dos negócios. É preciso enxergar os riscos na estratégia e no ambiente da empresa, mensurá-los e conseguir comunicar isso de forma clara e eficiente para os stakeholders e a alta administração da companhia.
Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada com mais de 700 profissionais de diversos países pela Protiviti, empresa multinacional de consultoria, auditoria interna, gerenciamento de riscos e governança corporativa. “Estamos passando por grandes transformações na área. É necessário, portanto, alinhar as expectativas dos auditores com as da cúpula das organizações”, afirma Waldemir Bulla, sócio-diretor da Protiviti.
De acordo com o estudo, quase 70% dos entrevistados disseram que o uso de tecnologias avançadas atualmente é indispensável para que possam ter um bom desempenho na profissão. Na opinião de Bulla, o auxílio de plataformas informatizadas confiáveis se tornou, de fato, essencial na auditoria e as empresas devem não só entender isso, mas fornecer os recursos necessários. “Com a tecnologia é possível vasculhar todo o banco de dados e analisar os números com precisão, além de transformar isso em resultados tangíveis”, diz. “Não adianta apenas identificar os riscos e as oportunidades. É preciso traduzir isso em valores, mostrar os custos e os ganhos prováveis”, complementa.
Para ele, a tecnologia da informação, se usada de forma correta, também permite descobrir e evitar fraudes com mais segurança. Embora essa não seja a principal atividade de um auditor interno, a preocupação com o tema depois da crise se mostrou relevante para 74% dos profissionais.
Em relação ao conhecimento técnico, 66% dos respondentes consideram fundamental o aprimoramento dos conceitos de “Enterprise Risk Management” (ERM), ou seja, fazer uma avaliação mais estratégica dos riscos e de como eles podem afetar a companhia como um todo. “Essa é tendência global. Muitos dos problemas que estamos passando hoje na economia vieram da falta de um trabalho eficiente nesse sentido”, afirma Bulla.
Desenvolver habilidades de apresentação em público e saber se expressar perante gestores e acionistas também são consideradas hoje vantagens competitivas na carreira de um auditor interno. Mais de 70% dos entrevistados afirmaram se preocupar com esse tema, especialmente nos cargos mais elevados como “chief audit executive” (CAE), diretores e gerentes. “Isso acontece pelo recente aumento de regulamentações na área, dos comitês e dos conselhos, além da abertura dos mercados e da globalização. Os auditores internos estão mais expostos e precisam se relacionar o tempo todo com os tomadores de decisão”, ressalta o sócio-diretor. Cerca de 80% dos respondentes são de companhias que faturam mais de US$ 500 milhões por ano – desse total, no caso de 15% o montante supera os US$ 20 bilhões.
Embora a pesquisa tenha sido internacional e as tendências na profissão estejam alinhadas em todos os continentes, Waldemir Bulla destaca que no Brasil as transformações são ainda mais profundas. Para ele, quando a economia do país era fechada, 20 anos atrás, a auditoria interna tinha um papel totalmente diferente do atual.
“A função hoje tem mais valor agregado e exige conhecimento sobre boas práticas de governança e a exposição das empresas para o mercado”, diz. Prova disso, de acordo com ele, é que o auditor interno moderno discute com os gestores riscos que abrangem aspectos financeiros, operacionais e estratégicos, além de outros assuntos variados como os relacionados a clientes, reputação, imagem e marca.
“O Brasil ainda é novo nisso, mas tem evoluído de forma significativa com a capacitação e a conscientização dos profissionais da área”, afirma.