Os executivos brasileiros estão menos focados no crescimento internacional de suas empresas nos próximos cinco anos do que os comandantes de outros países da América Latina, inclusive os argentinos. A ambição de aumentar a participação em mercados externos nesse prazo, no entanto, ainda é maior entre os dirigentes asiáticos e europeus.
Esses dados fazem parte de uma ampla pesquisa realizada pela consultoria Bain & Company com 1.430 executivos do alto escalão de grandes companhias – 40% com faturamento entre US$ 600 milhões e US$ 2 bilhões. O estudo foi conduzido nas regiões da América Latina, Ásia/Pacífico, Europa, Oriente Médio, África e América do Norte no primeiro trimestre deste ano. Nele, os executivos de mercados emergentes, especialmente os latino-americanos, parecem bastante confiantes no futuro de suas empresas. Metade desses dirigentes acredita que seus países terão mais oportunidades nos próximos anos do que a China e a Índia.
No Brasil, 55% dos pesquisados disseram que o crescimento internacional é vital para a performance de sua companhia nos próximos anos. Em outros países da América Latina esse percentual chega a quase 70%. “Os executivos aqui vêem o mercado interno como o grande desafio”, diz Jean-Claude Ramirez, sócio da Bain & Company no Brasil. Além de não estarem vislumbrando uma grande dependência dos mercados internacionais, exceto em alguns segmentos específicos da indústria de base, eles enxergam grandes oportunidades a serem exploradas internamente, explica o consultor. “Setores como o de telecomunicação e varejo não têm razão para se preocupar com o mercado internacional”, afirma.
Essa perspectiva de crescimento interno talvez seja uma das explicações para o otimismo que os executivos brasileiros demonstram na pesquisa em relação aos próximos anos. Como os outros líderes da América Latina, eles se preocupam com o cumprimento das metas deste ano e as soluções de curto prazo, mas não perdem a perspectiva otimista para o futuro. Sete em cada dez entrevistados acreditam que a turbulência econômica se dissipará em 2010. “Para os latino-americanos, a recessão parece ser um bom momento para melhorar sua posição competitiva”, diz Ramirez. No estudo, 81% dos executivos da região disseram que pretendem aproveitar a crise para aumentar sua participação no mercado. Também pretendem fazer o mesmo 80% dos executivos indianos e 70% dos chineses pesquisados.
Outro ponto consensual no estudo para 78% dos representantes da América Latina é que, para ter sucesso no longo prazo, a inovação é mais importante do que a redução de custo operacional. “Nos países emergentes, as empresas estão mais aptas a falar em inovar do que nos Estados Unidos onde os executivos estão mais focados em questões imediatas para não quebrar”, lembra Ramirez. Já entre os asiáticos, 84% apostam em atitudes inovadoras para crescerem nos próximos anos.
Mesmo defendendo essa visão de futuro, 38% dos executivos da América Latina admitem que suas decisões têm foco no curto prazo, por razões financeiras e não estão relacionadas às estratégias de longo prazo.