Há pelo menos cinco meses a Fundação Renova, criada para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem da Samarco em 2015, e o governo do estado sabem que o solo e a poeira de regiões atingidas pela lama, em Mariana e em Barra Longa, estão contaminados com metais pesados.
A TV Globo teve acesso ao estudo, encomendado pela própria Fundação Renova, que classifica estes pontos como locais de Perigo Categoria A.
Segundo o relatório, a Categoria A considera que existe um perigo para a saúde da população exposta aos contaminantes por meio da ingestão, inalação ou absorção dérmica das partículas de solo superficial e/ou da poeira domiciliar contaminadas.
Esta exposição, ainda de acordo com o estudo, pode determinar a ocorrência de efeitos lesivos, imediatos ou de longo prazo, devendo ser objeto de recomendações de ações de saúde pertinentes para sua prevenção e assistência. O contato a curto, médio e longo prazos pode causar doenças de pele, gastrointerite e até câncer.
Muitos moradores vêm apresentando problemas de saúde que já foram relacionados com a intoxicação por substâncias como cádmio, ferro e níquel.
“Eu tenho mais de 39 anos que moro aqui na cidade de Barra Longa. Eu nunca ouvi falar que alguém fez exame, que deu metais, que deu cádmio, arsênio, níquel. Então como? De repente, num ano, a lama vem passa e aí começa a acontecer esses problemas de saúde”, disse a cuidadora de idosos Andrea Domingos.
Simone Silva, moradora de Barra Longa, tenta há 4 anos que seus filhos sejam reconhecidos como vítimas do rompimento da barragem da Samarco em Mariana — Foto: Patrícia Fiúza/G1 Minas Simone Silva, moradora de Barra Longa, tenta há 4 anos que seus filhos sejam reconhecidos como vítimas do rompimento da barragem da Samarco em Mariana — Foto: Patrícia Fiúza/G1 Minas
Simone Silva, moradora de Barra Longa, tenta há 4 anos que seus filhos sejam reconhecidos como vítimas do rompimento da barragem da Samarco em Mariana — Foto: Patrícia Fiúza/G1 Minas
“Aqui em casa eu, meu filho e ela, a minha sogra, todos contaminados. É uma família inteira contaminada”, disse a professora Simone Silva. A filha dela, Sofia, tem tosse e feridas pelo corpo.
Até hoje o estudo não veio a público e nenhuma medida de prevenção na área da saúde foi adotada.
De acordo com o diretor de programas socioeconômicos e ambientais da Fundação Renova, André de Freitas, o laudo não foi divulgado porque não seria conclusivo.
“A própria Secretaria de Estado de Saúde considera que é necessário um aprofundamento da análise. Então isso é o que está sendo feito. Esses estudos também passaram por uma revisão de especialistas. A Fundação Renova preza muito pela boa ciência”, disse ele.
No dia 13 de setembro de 2019, o procurador da República, Edmundo Antônio Dias Netto Júnior, enviou ao governador de Minas Gerais, Romeu Zema, um ofício cobrando as medidas de atendimento à população atingida pelo desastre.
O documento não cita se é preciso retirar as pessoas das áreas contaminadas, mas diz que \”na impossibilidade parcial ou total da remoção da lama de rejeitos, recomendam-se medidas de remediação ou mitigação\”.
O estudo recomenda ainda o monitoramento de ações no solo contaminado visando avaliar sua eficácia e possíveis efeitos negativos como a biodisponibilização dos contaminantes por alterações.
Em nota, a Fundação Renova informou que “em cumprimento à Nota Técnica 11/2017, todos os dados, informações e relatórios produzidos pelo estudo são proibidos de serem publicados pelas instituições contratadas, sem autorização das autoridades públicas”.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) disse que “o relatório encontra-se em análise por uma equipe multisetorial da SES/MG. Vem sendo elaborado um Plano de Ação que contemple a adoção de todas as medidas de curto, médio e longo prazo necessárias para minorar os danos causados”.