Mesmo com o país em recessão, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu ontem, por unanimidade, aumentar em 0,5 ponto percentual os juros básicos da economia (Selic), para 13,25% ao ano. Essa é a quinta elevação consecutiva promovida pelo Banco Central, desde a reeleição de Dilma Rousseff, em outubro passado. Dessa forma, a taxa atingiu o maior patamar desde dezembro de 2008, quando estava em 12,75% ao ano, no auge da crise financeira mundial.
A autoridade monetária repetiu o mesmo comunicado enviado ao mercado na última reunião, em março, e detalhou que levou em conta o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação. Na avaliação dos analistas, o BC deixou a porta aberta para mais uma elevação da Selic, que seria de 0,25 ponto percentual, e assim encerraria o ciclo de alta. Com a decisão do Copom, o Brasil mantém o péssimo rótulo de ser o país com maior taxa real de juros do mundo, mesmo com a inflação em alta.
Pelas contas do economista Jason Vieira, do portal MoneYou, descontada a carestia projetada para os próximos 12 meses, o indicador ainda chega a 4,76% ao ano, a frente da Índia (3,17%), da China (2,18%) de Taiwan (1,68%) e da Polônia (1,60%). Além dos juros altos encarecerem os empréstimos para os consumidores, o setor produtivo não apoia a decisão da autoridade monetária.
“Certamente que o impacto direto dessa nova alta na Selic é o aprofundamento da já deprimida atividade econômica, que, atualmente, não encontra nenhum vetor favorável à retomada do crescimento”, afirmou ontem o presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Edwaldo Almada de Abreu. “Essa medida gera uma espécie de reação em cadeia. Com diminuição do consumo e vendas em queda, o crescimento do emprego e da economia se tornam mais lentos. Com medo de demissões e crédito caro, o consumidor tende a comprar menos e a disseminação desses efeitos negativos implica menor crescimento e recessão”, acrescenta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a elevação da Selic desestimulará ainda mais os investimentos e o consumo das famílias. Com a decisão, a entidade afirmou que as dificuldades para a retomada da produção da indústria e do crescimento econômico aumentarão. Os economistas da CNI argumentam que o fraco desempenho da economia, a valorização do real frente ao dólar e o ajuste nas contas públicas seriam suficientes para reduzir as pressões sobre a inflação.
FMI prevê forte desaceleração
Com o arrocho monetário e o desaquecimento da economia, a pior desaceleração dos últimos 20 anos é esperada para o Brasil em 2015. A previsão é do Fundo Monetário Internacional (FMI), que volta a recomendar que, mesmo com a atividade enfraquecida, a presidente Dilma Rousseff siga em frente com o arrocho fiscal e monetário, de acordo com o relatório “Perspectiva Econômica Regional: Hemisfério Ocidental”, divulgado ontem. “O Brasil está passando por sua desaceleração mais grave em mais de duas décadas, mas terá de perseverar com os recentes esforços para conter o aumento da dívida pública e repor a confiança no quadro da política macroeconômica”, destaca o FMI no documento.