Para tirar proveito desse movimento, Fernando Góes, analista da corretora Clear, aconselha seus clientes a pensarem com cabeça de estrangeiro, ou seja, analisando quais são as boas oportunidades em dólar. São essas ações que têm mais chances de uma boa valorização nesse período de depreciação do real.
— O que estamos indicando é comprar papéis que ficaram muito baratos em dólar, como os bancos, a Ambev e a maior parte das empresas exportadoras — aconselha Góes.
Ele lembra ainda que, desde 2010, todas as vezes em que o Ibovespa em dólar bateu a mínima, a tendência nos meses seguintes foi de alta:
— O dólar deve continuar subindo, e o espaço para a Bolsa cair será limitado. De qualquer forma, eu fugiria do setor de commodities, que ainda está com problemas.
DE OLHO EM 2016 E 2017
Outros indicadores mostram que os estrangeiros têm motivos para aplicar parte de seus recursos em ações brasileiras. Especialistas do mercado financeiro costumam olhar a relação entre preço do papel e valor patrimonial (que é o valor do patrimônio da empresa dividido pelos número de ações emitidas). Ao pegar o conjunto de todas as empresas da Bovespa, essa relação é de 1,3 vez, segundo cálculos de Frederico Sampaio, diretor de renda variável da Franklin Templeton.
— Essa relação já foi de 2,5 vezes, ou seja, historicamente a Bolsa está em um patamar muito baixo. E esse patamar baixo reflete o atual momento econômico, que reduziu as margens das empresas — diz Sampaio.
A boa notícia, segundo ele, é que as medidas de ajuste do governo vão corrigir esses excessos, o que ajudará a melhorar as projeções de crescimento de 2016 e 2017, algo positivo para a Bolsa.
— Há um fluxo de estrangeiros para a Bolsa porque eles veem uma luz no fim do túnel. Acreditam que serão tomadas medidas para corrigir alguns excessos do passado — explica Sampaio, lembrando que em fevereiro, até o dia 25, o fluxo positivo de estrangeiros na Bolsa era de R$ 3,8 bilhões.
Para o analista da Futura Invest Alan Oliveira, esse movimento é natural:
— O investidor estrangeiro pensa em diversos critérios na hora de diversificar suas aplicações, e o câmbio é um desses fatores. A Bolsa barata em dólar coloca o Brasil em destaque na América Latina.
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ATENÇÃO PARA ESPECULADORES
O real é uma das moedas que mais perdeu valor no mundo, e a expectativa é que se deprecie um pouco mais até o fim do ano. Alguns analistas já veem o dólar comercial acima dos R$ 3.
Apesar da avaliação de que os estrangeiros devem buscar pechinchas no Brasil, o superintendente de renda variável da SulAmérica Investimentos, Eduardo Carllier, lembra que parte desses recursos pode ser formada por capital especulativo, ou de curto prazo. Este pode sair a qualquer momento, aumentando a volatilidade na Bolsa.
— Com o real desvalorizado, a Bolsa fica mais atraente para o estrangeiro, mas é bom tomar cuidado com a qualidade desse investidor. Eu ainda sugiro cautela — diz.