Pouco menos de um mês antes do Natal, analistas de mercado dão como certo um novo aumento na taxa básica de juro — que pode chegar a 10% amanhã, quando termina a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Apesar das aplicações em renda fixa ficarem mais atrativas para os poupadores, com a alta da taxa Selic, comprar no cartão de crédito, pedir empréstimo e financiamento aos bancos fica menos em conta. O crédito mais caro exige atenção dos consumidores, sobretudo nas aquisições de longo prazo.
O juro elevado é um remédio amargo, mas serve para combater um mal ainda pior, a inflação. Depois de voar alto no primeiro semestre, e ultrapassar o teto da meta do governo (6,5%), o dragão perdeu altitude nos meses seguintes, mas voltou a assustar em outubro quando o preço dos alimentos ganhou força. O tomate é um bom exemplo do vaivém: naquele mês, subiu 18%.
— Além disso, existe há um certo tempo uma pressão por reajustes nos combustíveis. O governo tem segurado o aumento nos preços, mas quando ocorrer, haverá impacto forte na inflação. É por isso que o BC deve subir um pouco mais o juro — avalia João Ricardo Costa Filho, economista da consultoria Pezco Mycroanalysis.
A dúvida maior agora é quanto à dosagem do remédio. Apesar de alguns especialistas apostar em alta de 0,25 ponto percentual, a maioria dos economistas acredita que o Banco Central fará em um aumento mais expressivo, de 0,5. Se confirmada, a Selic que hoje está em 9,5% chegará aos dois dígitos, a maior taxa desde janeiro de 2012.
O encarecimento do crédito demora de seis a nove meses, em média para ter efeitos mais fortes na economia, garantem especialistas. Então, a princípio, um aumento de juro isolado agora em novembro não acarretaria impactos na vendas de fim de ano.
Mas conforme Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a decisão de compra de empresários e consumidores é influenciada por todo cenário econômico e, por isso, o comércio não deve ficar tão otimista para dezembro.
— O juro começou a subir em abril, então os efeitos já serão sentidos agora. Mas o que mais prejudica as vendas é a inflação. Com o preço dos alimentos mais alto, as pessoas compram menos eletrodomésticos e móveis — explica Bentes.
Renda fixa mais atrativa
Quanto mais alto o juro, mais atraentes os fundos de renda fixa se tornam frente à poupança. Mas o tempo que o dinheiro ficará investido é fundamental para escolher a aplicação.
Enquanto a poupança é isenta, outras modalidades têm incidência de Imposto de Renda (IR), que diminui de acordo com o prazo de investimento. É o caso dos fundos DI, que costumam ter rendimento próximo ao juro básico.
— Mas é preciso levar em consideração a taxa de administração, valor cobrado (pelo banco) para gerir o recurso. Dependendo do tamanho pode tornar o investimento um mau negócio — explica Marcio Cardoso, da Easynvest Título Corretora.
Outra alternativa em momento de alta de juro é o Certificado de Depósito Bancário (CDB), que rende de acordo com o CDI, referência de negociação entre bancos. A taxa é negociada com cada cliente e depende do banco.
Aplicações em renda fixa costumam sofrer mordida gradativa do Leão
Até 6 meses: 22,5%
Entre 6 meses e 1 ano: 20%
Entre 1 ano e 2 anos: 17,5%
Mais de 2 anos: 15%
Quanto rende cada aplicação com juro de 9,5% ao ano
Poupança: 6,17%
CDI: muito próximo à Selic, 9,5%
CDB: pode variar entre 85% e 100% do CDI