Na direção oposta à das frequentes análises pessimistas do mercado financeiro sobre o crescimento da China, o presidente da mineradora Vale, Murilo Ferreira, vê um caminho de expansão firme da segunda maior economia do mundo pelos próximos 15 anos e que vai alimentar as exportações brasileiras de produtos minerais e metálicos. “Não apostem contra a China. É perda certa”, afirmou o executivo, ontem, em Belo Horizonte, onde falou sobre o futuro da indústria mineral no 15º Congresso Brasileiro de Mineração, evento promovido pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Ainda na análise do cenário mundial, Murilo Ferreira informou que a companhia está negociando contrato de fornecimento de pelotas de ferro para os Estados Unidos, sinal de recuperação da economia americana. Segundo o presidente da Vale, só quem conhece, como ele, o interior da China tem a noção da grande necessidade que o país asiático ainda tem, da mesma forma que a Índia, de investir em infraestrutura para abrigar a população rural em processo de mudança para as cidades.
Estudos encomendados pela mineradora indicam que não passa de 35% o contingente de chineses que moram, hoje, em áreas urbanas. Em 15 anos, a tendência seria de surgimento de seis metrópoles para atender à transformação motivada pelo processo de urbanização. Um dos sinais destacados por Murilo Ferreira é a construção cada vez mais frequente, em Tóquio, de prédios residenciais acima de 35 andares, num mercado antes típico de edificações com seis níveis.
“A China, há muito tempo, persegue uma economia moderna e, para isso, é preciso ter uma grande infraestrutura urbana. É demanda que veio para ficar porque se trata de um processo de inclusão social”, afirmou. Apesar da redução do nível de crescimento chinês da casa de dois dígitos para os atuais 7,5% ao ano, o presidente da Vale disse que a expansão do país e as de outras nações emergentes exigirão novos projetos da indústria da mineração.
Expansão mineira
A Vale pôs em teste as novas instalações que ampliam a produção de minério de ferro de Itabira, na Região Central de Minas Gerais, compreendida no projeto Conceição Itabiritos 2, orçado em US$ 1,1 bilhão. Até o fim do ano o novo complexo, em áreas das antigas reservas de Conceição e do Cauê, vai produzir 1 milhão de toneladas para, em 2014, entrar no ritmo pleno de 12 milhões de toneladas anuais de material de alta qualidade, informou o diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos da companhia, Lúcio Gallon Cavalli.
Com outros dois projetos em andamento no município que foi o berço das atividades da mineradora, a produção de Itabira vai crescer dos atuais 40 milhões de toneladas de ferro por ano para 57 milhões de toneladas anuais a partir de 2015. Os investimentos totais no estado chegarão a US$ 5,7 bilhões na exploração da chamada terceira safra de minério pobre, do tipo itabirito na região do Quadrilátero Ferrífero de Minas.
Tecnologia desenvolvida pela Vale permitirá à companhia produzir minério com alto teor de ferro (68%), quando, na natureza, as rochas pobres têm 40% a 42% de ferro e grande quantidade de contaminantes, como sílica e alumina. Parte do processo depende dos 16 moinhos gigantescos adquiridos pela companhia. O acréscimo de produção atenderá tanto as usinas produtoras de pelotas da Vale no Espírito Santo quanto clientes da mineradora em Omã, no Oriente Médio, e outros mercados no exterior. O diretor Lúcio Cavalli observou o aumento da demanda da China nos últimos cinco anos foi determinante para viabilizar o comércio do minério de Itabira, que antes se transformava em rejeito acumulado em barragens. “Não fosse isso, a companhia teria trabalhado com as previsões de 2008, que indicavam uma redução de até 50% da produção de Itabira”, afirmou.