Em um dia tão nervoso que obrigou o Planalto a desmentir rumores sobre a queda do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o Banco Central (BC) mudou sua estratégia para conter o câmbio.Mesmo assim, o dólar seguiu firme sua rota de alta e avançou ontem 1,71%, a R$ 2,2580.
Em alguns momentos, a moeda americana chegou a ser negociada por valor próximo de R$ 2,28. Na quarta-feira, Mantega havia dito que o governo “tem bala na agulha” para enfrentar a turbulência no mercado de câmbio, que em menos de um mês levou a moeda americana a subir 9%.
A novidade adotada na quinta-feira pelo BC foi o leilão de venda de dólares com compromisso de recompra futura, realizado no início da tarde e que movimentou US$ 3 bilhões.Essa operação havia sido feita pela última vez no fim do ano passado.
Antes disso, o BC já havia iniciado o dia com intervenção nos negócios. Às 9h20min, anunciou leilão de swap cambial tradicional, equivalente à venda de dólares no mercado futuro, estratégia que vem sendo adotada nas últimas semanas. Todos os 60 mil contratos ofertados foram negociados, totalizando US$ 2,986 bilhões.
Nesta sexta-feira, o governo coloca em prática outra frente de ação. O Tesouro Nacional vai promover um leilão extraordinário de recompra de títulos que atualmente estão nas mãos de investidores. O objetivo dessa medida é impedir que as taxas de remuneração fiquem muito baixas. Segundo técnicos do Tesouro, a instabilidade faz o aplicador ter a sensação de que está perdendo dinheiro ao manter o título.
O dinheiro virá, na maior parte,do colchão da dívida pública, recursos que o Tesouro tem guardados para usar em momentos de crise. Esse instrumento foi usado em 2005, 2006 e 2008.
Meirelles disse estar “muito bem”no setor privado
Ao longo do dia, o mercado conviveu com rumores sobre a saída de Mantega do Ministério da Fazenda, seguindo uma recomendação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à presidente Dilma Rousseff. Ele seria substituído pelo ex-presidente do BC Henrique Meirelles. Durante a tarde, o porta-voz do Palácio do Planalto, Thomas Traumann, qualificou, os rumores como “boato irresponsável”.
Por meio de nota distribuída por seu instituto, Lula declarou que não procede “de forma alguma” a informação divulgada pelo jornalista Kennedy Alencar, na Rádio CBN, de que teria sugerido a substituição de Mantega. “O ministro da Fazenda Guido Mantega tem grandes serviços prestados na condução da economia ao país e é conhecido pela sua competência e seriedade na condução da pasta”,informou a nota.
Em São Paulo,Meirelles disse que está “muito bem no setor privado, que está sendo uma experiência extraordinária”. O ex-presidente do BC é presidente do conselho de administração da J&F, holding que controla o frigorífico JBS.
ALGUMAS PEÇAS DO ARSENAL
INTERVENÇÕES DO BC
— Com a adoção do novo mecanismo, agora o Banco Central tem três formas
de intervir no mercado de câmbio: intervenções diretas no mercado à vista, leilões de swap (tradicional e reverso) e leilões de moeda estrangeira com compromisso de recompra no futuro. Essa última funciona como uma operação de empréstimo, em que o BC oferta a moeda com valor de recompra definido.
RESERVAS INTERNACIONAIS
— Uma das munições a que o governo pode lançar mão são as reservas internacionais, que somavam até quarta-feira passada US$ 376,11 bilhões. Caso o
dólar suba demais, o BC pode vender parte dessas reservas, como aliás tem feito desde que a moeda americana engatou sua estratosférica rota de alta. Só na manhã de ontem, foram negociados quase US$ 3 bilhões.
VENDA DE TÍTULOS
— Assim como os Estados Unidos fizeram, a instabilidade no mercado financeiro
fará o Tesouro Nacional do Brasil a continuar com a compra de títulos públicos. Hoje, o Tesouro tem programado mais leilões extraordinários para adquirir papéis prefixados (com juros definidos com antecedência) e corrigidos pela inflação atualmente nas mãos de investidores. Ontem, o Tesouro comprou R$ 857,49 milhões.
— A lógica da oferta do Tesouro é a de que o quadro de instabilidade faz o aplicador ter a sensação de que está perdendo dinheiro ao manter o título. No entanto, na hora de se desfazer do papel, o investidor não encontra compradores
que ofereçam preço justo. Nessas horas, então, é necessário o Tesouro do país recomprar os títulos para fornecer um referencial de preços e taxas de juros.