O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela terminou nesta quinta-feira a primeira fase de uma auditoria que tenta comprovar as denúncias de fraude nas eleições presidenciais que sacramentaram o presidente Nicolás Maduro no poder no último dia 14 de abril. E sem indício de irregularidades até agora. Segundo autoridades do CNE, houve coincidência em 99,98% dos votos depositados e apurados.
Segundo a vice-presidente do CNE, Sandra Oblitas, nos últimos dez dias foram revistos os votos de 3.505 seções eleitorais – ou 9% dos 46% que não foram incluídos na revisão feita no próprio dia do pleito. A próxima fase da auditoria começa nesta sexta-feira e deve durar mais dez dias – e espera-se verificar uma média de 350 urnas por dia até o fim do mês.
– A auditoria tem mais que um resultado técnico, mas moral. Isso mostra que a firmeza do sistema eleitoral venezuelano tem erro zero – declarou. – Os outros 0,02% não correspondem à inconsistência de dados, não implicam de forma alguma numa mudança na vontade dos eleitores.
Após a divulgação dos resultados, Henrique Capriles – candidato derrotado da Mesa de Unidade Democrática (MUD) e governador do estado de Miranda – condenou a recontagem através de sua conta no Twitter.
“Já dissemos há vários dias, já reiteramos que essa suposta auditoria que fazem no CNE é uma farsa, uma palhaçada”, escreveu o governador, acusando, ainda, o chavismo de “burlar regras e mentir ao país e à comunidade internacional”.
Pela lei venezuelana, em cada eleição pode-se verificar as atas de 54% das urnas – o voto é eletrônico. A revisão aleatória das outras 46% foi acordada no mês passado pelas autoridades eleitorais após pressão da oposição ao chavismo, encabeçada por Capriles, que denunciou uma série de irregularidades.
O processo começou no último dia 6 com a presença de técnicos do governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). A auditoria, porém, vem sendo feita sem a participação da oposição – que, depois de solicitar a checagem, recusou-se a participar do processo, classificado como “farsa”, sob a alegação de que faltam elementos adequados de verificação, como listagens e atas eleitorais.
Vitória com 1,49% votos de diferença
A MUD, uma ampla coalizão de grupos de oposição composta por partidos de esquerda, conservadores moderados e tradicionais, insiste na revisão das atas eleitorais e na comparação das cédulas de registros para detectar supostos milhares de casos de fraude como votos duplos e até votos de pessoas já mortas.
Maduro venceu as eleições presidenciais com 7,5 milhões de votos – superando o adversário por uma margem estreita de 224.739 votos, ou 1,49% de diferença. Essa pequena margem provocou os questionamentos da oposição, que até agora se nega a reconhecer os resultados do pleito e o triunfo do chavismo.
A MUD apresentou, ainda, uma ação no Supremo Tribunal da Venezuela para revogar o pleito e convocar uma nova votação. A corte ainda não se pronunciou, mas Capriles já ameaçou levar o caso a instâncias internacionais.
Após as eleições, eclodiram protestos de rua em Caracas e de outras cidades do país. Segundo as estimativas do governo, ao menos nove pessoas morreram e outras 78 ficaram feridas nos dias que se seguiram.