O crescimento da economia e a consequente ascensão das classes menos
favorecidas – que passaram a ter acesso à luz elétrica, chuveiro e
equipamentos eletroeletrônicos – turbinaram o consumo per capita de
eletricidade no Brasil.
Entre 2006 e 2010, o aumento do consumo foi de 11,31%, quase
duas vezes maior que o crescimento da população no período, segundo
relatório da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). As projeções para
2011 indicam que a expansão chega a 17%, elevando o consumo para 2.494
quilowatt/hora/habitante (kWh/hab.).
Apesar do crescimento, o gasto de energia por habitante no
Brasil ainda permanece abaixo da média mundial. O consumo médio por
habitante no planeta está em torno de 2.730 kWh/hab (número de 2009).
O Brasil perde até mesmo para os vizinhos Argentina, Chile,
Uruguai e Venezuela e para outras nações menos desenvolvidas, como
África do Sul.
O Reino Unido, que foi desbancado pelo Brasil recentemente da
sexta posição do ranking de maior economia do mundo, consome mais que o
dobro da média brasileira, segundo dados da Agência Internacional de
Energia (IEA, sigla em inglês).
Indicador
Para especialistas, o consumo de energia
pode ser visto como um importante indicador de desenvolvimento dos
países. “Nosso humilde consumo per capita mostra que ainda há muita
coisa para ser feita no Brasil. É um indicativo do baixo nível de
industrialização”, afirma o presidente da Associação Nacional dos
Consumidores de Energia (Anace), Carlos Faria. Ele destaca que ainda
existem muitos brasileiros sem acesso à eletricidade.
Em todo País, são mais de meio milhão de residências sem
instalação elétrica, apesar dos avanços do programa federal Luz para
Todos, que inseriu vários brasileiros no sistema nacional. Com energia
em suas casas, somado ao crescimento do emprego e da renda, eles puderam
comprar, pela primeira vez, televisão e geladeira. Entre 2006 e 2009, o
número de residências com esses eletroeletrônicos cresceu 10% e 12%,
respectivamente.
O aumento do consumo de energia poderia ser maior, mas a
expansão esbarra no alto custo das tarifas, decorrente da elevada
incidência de impostos e encargos setoriais, fatores que prejudicam a
competitividade do País. O valor da conta de energia no fim do mês ainda
assusta muitos consumidores.
O diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp) Carlos Cavalcanti destaca que 52 milhões de pessoas no Brasil
são beneficiadas por tarifas subsidiadas. Para essa fatia da população, o
consumo precisa ser controlado com atenção.
O custo também prejudica o setor industrial, responsável por
quase metade do consumo nacional. Uma parcela significativa da indústria
brasileira é intensiva no uso de energia, ou seja, utilizam a
eletricidade como matéria prima, a exemplo das fábricas de alumínio, aço
e petroquímica.
“Antes, as empresas vinham para cá porque a energia hídrica
era mais barata, mas agora as empresas fecham unidades ou transferem os
parques industriais para outros países por causa do elevado custo da
eletricidade no Brasil”, afirma o professor Adilson de Oliveira, do
Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Com isso, o consumo per capita do Brasil pode cair mais em
relação à média mundial, ao invés de crescer. A previsão é de que até
2020, o consumo chegue a 3.728 kWh/hab.
Na avaliação de Oliveira, outra explicação para o baixo consumo
do País está no perfil da mobilidade urbana. “A maioria da população é
atendida por ônibus, e não por metrô, que usa eletricidade.”
De acordo com especialistas, há um outro fator que justifica
parte da diferença entre o consumo brasileiro e o de outros países.
Trata-se das condições climáticas, lembra Ricardo Savoia, gerente do
Núcleo de Regulação e Tarifas da Andrade & Canellas. Em países como
Noruega, Suécia, Canadá e Islândia, que têm inverno rigoroso, o consumo
de energia elétrica é maior, embora alguns países usem gás natural para
calefação.
No Brasil, o clima tropical e as elevadas temperaturas em
algumas regiões deveriam pesar no consumo. Mas o uso do ar condicionado
ainda não está consolidada, por causa do custo, observa Adilson
Oliveira. “O comércio de rua, por exemplo, em geral não usa o
equipamento para não reduzir a lucratividade.”
Enquanto o consumo per capita está bem abaixo da média mundial, o
consumo total do Brasil está entre os oito ou nove maiores do mundo. Em
2010, foram consumidos 419.016 gigawatts-hora (GWh).