O trabalho no Brasil não se tornou mais produtivo ao longo dos
últimos 30 anos. A produtividade do trabalho, fator fundamental do
crescimento econômico sustentado, caiu entre 1980 e 2008. De lá para cá,
o indicador recuou na crise global, depois se recuperou rapidamente,
mas parou de crescer a partir do segundo semestre de 2010.
“O Brasil é um país no qual, não importa como se meça a
produtividade, nada parece acontecer”, diz José Alexandre Scheinkman,
economista brasileiro da Universidade Princeton.
Em 1980, um trabalhador brasileiro produzia em média o equivalente a
US$ 21 mil por ano. Em 2008, esse número havia caído para US$ 17,8 mil.
Houve, portanto, queda de 15% no período. Esses dados fazem parte da
Penn World Table, banco de dados do Centro para Comparações
Internacionais de Produção, Renda e Preços da Universidade da
Pensilvânia, com indicadores econômicos de 189 países e territórios.
Os números vão até 2008 para a maioria dos países, inclusive para o
Brasil. Os valores da Penn World Table sobre a produtividade do trabalho
são todos convertidos para dólares de 2005, com paridade de poder de
compra (PPP). Isso significa que a diferença de custo de vida entre os
diferentes países é eliminada.
Entre os 150 países da Penn World Table com dados completos de
produtividade do trabalho entre 1980 e 2008, o Brasil está em 130.º em
termos de desempenho neste período.
O Brasil só ganha de 21 países, sendo 11 da África, incluindo Costa
do Marfim, Malawi, Somália, Camarões, Togo e Zimbábue. Todos os outros
países africanos tiveram desempenho melhor do que o Brasil.
Na América Latina, a evolução da produtividade do trabalho brasileira
nas últimas três décadas só não é pior do que a apresentada por
Paraguai, Venezuela, Nicarágua e Haiti.
Comparado a outras grandes economias emergentes, ou a países
sul-americanos como Argentina e Chile, o Brasil tem o pior desempenho na
produtividade do trabalho entre 1980 e 2008.
A Argentina saiu de US$ 21,2 mil para US$ 24,8 mil (alta de 17%). O
Chile, de US$ 15,1 mil para US$ 27,5 mil (82%). A China, de US$ 1,2 mil
para US$ 10,9 mil (778%). A Índia, de US$ 2,8 mil para US$ 7,8 mil
(181%). E a Coreia, finalmente, de US$ 14 mil para US$ 50 mil (256%).
Scheinkman nota ainda que, como proporção da produtividade do
trabalho dos Estados Unidos, o desempenho brasileiro nas últimas décadas
também é muito ruim. “Os Estados Unidos são a fronteira, e o Brasil não
está se aproximando”, ele diz.
Na verdade, o Brasil convergiu na direção dos Estados Unidos entre
1950 e 1980, e depois recuou de novo até 1988. Assim, a produtividade do
trabalho no Brasil era 18% da americana em 1950, avançou até 40% em
1980 e voltou para 21% em 2008.
Em comparação, a Coreia saiu de 14% da produtividade do trabalho
americana em 1953 (primeiro ano com dados na Penn World Table) para 27%
em 1980 e 60% em 2008. É interessante notar que, entre 1950 e 1980, o
Brasil avançou mais rápido do que a Coreia.
Tanto os dados do Brasil quanto da Coreia do Sul são da Penn World
Table, em PPP, e diferem dos valores do gráfico ao lado, do Conference
Board, embora a tendência seja a mesma.
Para Scheinkman, a má performance brasileira deve-se a deficiências
de educação e infraestrutura, à integração ainda baixa com a economia
global, à baixa absorção de tecnologia, à falta de inovação em muitos
setores e às dificuldades burocráticas para formalizar ou aumentar o
tamanho das empresas.
Ele nota que programas como o Simples, que aliviam a tributação para
as pequenas empresas, ajudam na formalização mas se tornam um
desincentivo ao crescimento. “As empresas não ganham a escala necessária
para se tornarem mais produtivas, trocando-se um problema pelo outro.”
Scheinkman ressalva, porém, que a agricultura é um setor em que a
produtividade teve grandes avanços no Brasil. “As pessoas reclamam da
agricultura, mas não percebem que ela vai muito melhor que os outros
setores em termos de produtividade”, ele diz.
O economista Samuel Pessôa, da consultoria Tendências, acha que uma
série de fatores interrompeu o bom desempenho da produtividade do
trabalho no Brasil a partir do início da década de 80.
Um dos mais básicos foi a evolução da tecnologia a partir de meados
dos anos 70, que começou a exigir trabalhadores com melhor qualidade
educacional.
“Aquele milagre brasileiro no pós-guerra, em um país de baixíssima
escolaridade, sem nenhum investimento em educação, se dissipou, porque a
tecnologia mudou na direção de requerer capital humano, que era
exatamente o que não tínhamos e ainda não temos”, diz Pessôa.