O Itamaraty realizará hoje nova operação de retirada de brasileiros da região atingida por terremoto e tsunami no Japão. Haverá pontos de encontro nas cidades de Sendai e Onagawa, na província de Miyagi, onde, segundo informações do consulado-geral em Tóquio, há a presença de 14 brasileiros. A retirada está marcada para a manhã de sábado (noite de hoje no Brasil).
Esta será a segunda operação do gênero. O Itamaraty resgatou 26 pessoas na quarta-feira em Sendai e Fukushima. Além de ônibus, será enviado um caminhão para recolher a bagagem dos brasileiros. O grupo será levado para um alojamento nos arredores de Tóquio.
Consulado não vê risco de contaminação no momento
Horas antes de a missão ser anunciada, um grupo de brasileiros protestara em Tóquio, em frente ao consulado. Com faixas com frases como “Queremos voltar” e “Mandem os Hércules da FAB”, eles pediam voos para buscá-los. Outros enviaram mensagens através das redes sociais do Itamaraty, solicitando a retirada do país. A justificativa é que o preço das passagens aéreas estaria alto e que falta disponibilidade de voos.
Em sua página na internet, o consulado-geral divulgou uma nota afirmando que não há “risco sério” de contaminação no momento. O consulado desmentiu também boatos de que haveria aviões a caminho do Japão para resgatar brasileiros. Pela manhã, o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, conversou por telefone com o chanceler japonês, Takeaki Matsumoto, para expressar a solidariedade ao povo do Japão.
Para quem consegue retornar ao Brasil, o alívio do reencontro com os parentes se mistura à preocupação com os que ficaram no Japão. No Aeroporto de Guarulhos, o brasileiro Aristides Hissao Massuda contou ter passado dez anos no Japão, onde trabalhou na produção de peças de navios. Vivia num apartamento confortável em Gunma e, há uma semana, almoçava tranquilamente com a mulher, Meire, num restaurante da cidade. Tudo parecia normal até que começou o terremoto.
– A gente ficava pensando que ia parar, mas o tremor não parava. E depois dá uma tontura, uma coisa esquisita que parece que você vai cair – lembra ele, que chegou com a mulher anteontem a São Paulo.
Sem comunicação com os pais, as filhas do casal, Milena, Michele e Priscila, se desesperaram por horas. A aflição só passou quando a família se reuniu:
– As filhas estavam apavoradas. Chegar foi um alívio.
Hissao e Meire voltaram ao país, mas deixaram para trás quatro cunhados que vivem em Fukushima, todos brasileiros. Sem luz e água, eles enfrentaram as estradas destruídas para chegar ao apartamento do casal, onde ficaram alguns dias.
– Saímos no dia 15 e os meus parentes decidiram voltar para suas casas. Mas não sei se conseguiram. O governo evacuou todas as casas daquele local.
Liberdade reza pelas vítimas em culto ecumênico
No bairro da Liberdade, o dia foi marcado por homenagens às vítimas da tragédia. Logo pela manhã, o centro cultural nipônico abrigou uma cerimônia ecumênica. Cristãos e budistas rezaram juntos na celebração, que reuniu autoridades como o cônsul-geral do Japão em São Paulo, Kazuaki Obi, e a vice-prefeita da cidade, Alda Marco Antonio.
No fim da tarde, as associações das três províncias mais atingidas (Miyagi, Fukushima e Iwate) realizaram um culto budista. No meio da celebração, uma senhora chorava, discretamente. Era Olga Aizawa, que tem família em Miyagi. Sua tia de 80 anos está desaparecida.
– Eu não sinto que ela está bem. Não sinto mais.
Credito: