O governo federal e o Banco Central (BC) prometem uma ofensiva para evitar que a cotação do dólar chegue a ficar abaixo de R$ 1,70 nas próximas semanas. A intenção é conter a queda da moeda americana utilizando o swap reverso (instituições financeiras que compram esses contratos e recebem uma taxa de juros. O BC, que vende os papéis, ganha a variação cambial do período de validade dos contratos).
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem, após participar de almoço com empresários na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), que o governo brasileiro tem cacife para bancar qualquer tamanho de operação da Petrobras. “O Fundo Soberano tem recursos ilimitados, porque é o caixa do Tesouro.”
As suas palavras parecem ter surtido efeito, pois elevaram a cotação da moeda americana. No dia 14, a moeda estava cotada em R$ 1,708 e fechou o dia de ontem em R$ 1,727.
Ontem, o BC divulgou um novo recorde: as reservas internacionais brasileiras avançaram US$ 1,88 bilhão somente na última terça-feira, 14, e atingiram US$ 265,13 bilhões. Também perto de uma marca histórica, o fluxo cambial no acumulado de janeiro até o dia 10 de setembro foi positivo em US$ 5,51 bilhões. No mês, até o dia 10, o fluxo está positivo em US$ 2,114 bilhões.
Para diretor de Câmbio da Treviso Corretora de Câmbio, Reginaldo Galhardo, o governo não tem tática para segurar a cotação da moeda, pois enfrenta uma oferta muito grande. “Na feira, quando já se vai fechar o caixa, as pessoas vendem os produtos a troco de banana. Ninguém quer dólar neste momento. Todos esperam o BC agir para zerar as operações pendentes”, explicou.
Na visão do diretor, o BC usou de esperteza para valorizar a cotação da moeda. “O governo fez uma consulta no mercado; foi maroto. Nas vezes anteriores, o BC anunciava as ações depois do fechamento para não influenciar a taxa, e ontem o disse perto do almoço e bagunçou o mercado.”
Para Galhardo, o governo deveria esperar a capitalização da Petrobras para intervir. “Comprar agora não vai alterar em nada. O BC compra o excedente para zerar posições do mercado. Os bancos esperam receber entre US$ 15 bilhões e US$ 50 bilhões para zerar as posições. Não se contêm avalanches.”
Além da estatal, Galhardo lembra que o governo fez a capitalização do Banco do Brasil, em junho. “Esperava-se que a Petrobras sairia em julho. O tempo foi passando, e o mercado, se inundando.”
Em sua visão, o governo não vai fixar uma taxa de câmbio por decreto, “pois, se não, o mercado entra em pânico e a moeda dispara.”
Ainda que o BC faça dois leilões diários, ressalta ele, a cotação da moeda não vai subir. “Pode demorar um pouco mais de tempo para chegar a R$ 1,70, mas vai chegar. Além do mais, temos credibilidade internacional, como a classificação de grau de investimento pelas três agências de rating; as reservas estão parrudas; te mos a dívida bem posicionada: é natural termos dólares.”
“As condições lá fora, dos EUA e da Europa, melhoraram um pouco.” A consequência é que, com este cenário, o investidor migra para títulos americanos e para mercados atraentes como o Brasil. “Oferecemos lucro farto, pois a Selic está em 10,75%.”
Ainda que o BC faça dois leilões diários, ressalta ele, a cotação da moeda não vai subir. “Pode demorar um pouco mais para chegar a R$ 1,70, ou menos. Depende do volume que entrar até a operação da Petrobras.”
Ele entende que o movimento de swap reverso só ajusta a manter preço. “É empurrar até o final de setembro, pois, historicamente, no último trimestre há saída de dólares para fazer importação para o final do ano. Além disso, as matrizes querem receber os dividendos, pagamentos das importações, royalties , entre outros. Assim, o mercado enxuga.”
O outro lado da moeda, contou, é que o mercado, que estava com posições vendidas, faz compra de dólares. “O dólar sobe e quem comprou na baixa ganha muito com ele na alta. Se comprar a R$ 1,73 e chegar em dezembro a R$ 1,78, já ganhou-se um rio de dinheiro.”
Já o gerente da mesa de operações do banco Confidence, Felipe Pellegrini, acredita que a movimentação do BC e do governo foi pontual, porém eficaz. “Enxuga o excesso, mas não vai evitar a baixa da cotação do dólar.”
Na visão Pellegrini, até o final do ano haverá mais aberturas de capital além da Petrobras. “Já se comentava no começo do ano que haveria muitas aberturas, mas, por ser um ano eleitoral, ninguém tinha tanta certeza. A tendência é de baixa da moeda.”
O diretor recorda que no mês de julho houve um boato no mercado de que o governo iria fazer swap reverso.
“Não tem um patamar de gatilho para o governo intervir. Eles não querem fazer mudanças bruscas na taxa. A última grande intervenção foi a taxação em 2% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para não permitir a desvalorização excessiva do dólar frente ao real. Vários fatores influenciam a cotação, inclusive o clima.”