O Opportunity deverá encaminhar hoje à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) esclarecimentos sobre o fundo de investimento em participações Tecon Fip. Esse fundo, conforme informou ontem o Valor, seria o terceiro investidor autor da proposta para a compra de fatia de ações que o banco possui na Santos Brasil Participações, operadora de terminais portuários.
O Valor apurou que a proposta apresentada pelo Tecon é bem superior ao preço a que a Santos Brasil é negociada em bolsa. A CVM teria questionado o fato de esse investidor ter aparecido “de repente” oferecendo valores elevados. Procurada, a CVM afirma apenas que está analisando os episódios envolvendo a Santos Brasil. O Opportunity não comenta o assunto.
O Tecon tinha como gestor, até 29 de janeiro, a Opportunity Lógica Gestão de Recursos. Nesse dia, uma assembleia aprovou a alteração do gestor para a BNY Mellon. Além disso, a auditoria do fundo deixou de ser da KPMG, uma das chamadas “quatro grandes” do setor, e passou para a Performance, de menor porte. Em 1º de fevereiro, o Opportunity informa ter recebido e aceito proposta de um terceiro investidor pela sua fatia, mas não revelou nomes ou valores.
Conforme acordo de acionistas firmado entre o Opportunity e o sócio Richard Klein, se um deles recebesse uma proposta de um terceiro, o outro teria de ser comunicado e teria prioridade para optar por vender as ações que já possui ou comprá-las do parceiro. No entanto, não existiria de fato um terceiro investidor, pois o Tecon teria ligação com o Opportunity.
O banco teria se empenhado em conseguir uma oferta de um terceiro por estar ciente de que Klien pretendia exercer um outro acordo firmado por ambos, que previa o exercício de compra e venda. Uma vez acionado, os dois lados deveriam apresentar, em envelope lacrado, um preço por ação na qual comprariam a parte do outro ou venderiam sua participação. O auditor da Santos Brasil faria um sorteio. O vencedor poderia decidir pela compra ou venda, pelo preço estipulado pelo acionista perdedor.
Se exercido, esse direito deixa apenas uma das duas partes no controle. Desfazer a parceria com o Opportunity, firmada em 1997 e exercida em harmonia durante muitos anos, seria um desejo de Klien, apurou o Valor, após desgastes recentes no relacionamento. O empresário também não comenta o assunto.
Klien disse ao banco em janeiro que estudava exercer a cláusula de compra e venda. No dia 18 de janeiro, comunicou oficialmente ao Opportunity que havia sido informado de que o banco estaria impedido de dispor das ações da Santos Brasil, em decorrência de ordem judicial. O empresário, em correspondência, dava prazo de cinco dias para ter esclarecimentos sobre essa questão e lembrava que o acordo de acionistas previa que os papéis da empresa não poderiam ser envolvidos em eventuais pendências dos negócios de ambos.
Aparentemente, essa pendência judicial travando as ações do Opportunity não existe, uma vez que o banco anunciou a disposição de negociá-las.
Do lado do Opportunity, apurou o Valor, a mensagem teria sido interpretada como uma confirmação de que Klien exerceria a cláusula de compra e venda. Para o grupo de Daniel Dantas, o empresário deseja desfazer a sociedade porque o Opportunity não aceitou as condições por ele propostas para a integração da Santos Brasil com a Multiterminais, controlada por Klien. Em vez da relação de troca proposta, o Opportunity queria uma avaliação independente, o que teria sido recusado por Klien.