O Brasil está mais protegido da formação de bolhas no sistema financeiro do que o mundo em geral, avalia o ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos, Armínio Fraga. Em palestra ontem, no Rio, ele brincou que o que chama de “acordo de Brasileia”, que exige dos bancos aqui uma capitalização maior do que em outros países, mostrou sua eficiência em meio às recentes turbulências mundiais.
O Acordo de Basileia, que motivou a brincadeira de Fraga, é um conjunto de regras internacionais firmadas por bancos centrais de diversos países. No Brasil, comentou, a exigência de um índice de capitalização dos bancos acima da média mundial ajudou a proteger o País das turbulências, assim como outras regras locais, como responsabilizar dirigentes de instituições financeiras para que respondam com os próprios bens em caso de quebra do banco no qual atuam.
Para ele, a atual liquidez do País, com a enxurrada de capital externo migrando para o Brasil, “é um bom problema” ainda que “tenha de ser administrado”. Fraga, que fez palestra em seminário sobre Regulação de Mercados Financeiros na sede da Fundação Getúlio Varga (FGV), explicou que a política de juros “muito expansionista” no mundo acaba trazendo recursos para o Brasil.
O ex-presidente do BC não quis opinar, entretanto, sobre a condução da política monetária no País. Neste ponto, esquivou-se com elogios: “O BC tem atuado com muita transparência, tem uma meta de inflação e vai saber o que fazer”.
Para ele, o sistema financeiro no mundo, hoje, é “uma máquina de fazer bolhas e isso precisa ser corrigido”, mas, no caso do Brasil, “o nosso sistema é diferente”.
Fraga comentou também o maior peso dos governos na economia desde o eclodir da crise mundial. “Penso que estamos caminhando talvez na direção oposta do que se imaginava, voltando a dar mais peso aos estados nacionais e políticas econômicas de cada país”.
A blindagem do Brasil em relação aos riscos do sistema financeiro internacional foi destacada também pelo ex-secretário do Tesouro Nacional e atual secretário de Fazenda do governo do Rio, Joaquim Levy.
Para ele, ” o governo respondeu com bastante inteligência e velocidade” à chegada da crise ao País. Ele elogiou, por exemplo, a atuação dos bancos públicos em meio às turbulências, ainda que alerte que “temos que prestar atenção no médio prazo nos riscos fiscais que isso pode trazer”.
Levy alertou também que os condutores da política econômica brasileira devem estar atentos ao que considera o principal desafio do País, que é “fortalecer a competitividade em relação a terceiros mercados”. Além disso, ele acredita que é fundamental aproveitar o que considera uma “tranquilidade atual” para maiores investimentos na educação.