As divergências políticas sobre a criação de padrões contábeis mundiais deverão aumentar ainda mais, enquanto o Conselho de Padrões de Contabilidade Internacional (Iasb, na sigla em inglês) inicia a busca por um substituto para seu presidente, David Tweedie.
Os membros do conselho de administração do Iasb escolheram a Spencer Stuart, empresa especializada em seleção de executivos, para encontrar um substituto antes de Tweedie se aposentar, em junho de 2011. O ideal, segundo os membros do conselho do Iasb, seria nomear seu sucessor em meados do próximo ano.
David Tweedie preside o Iasb, que determina os padrões contábeis da maior parte do mundo, mas sem incluir os Estados Unidos, desde sua criação em 2001.
Já se esperava que Tweedie se aposentasse no fim de seu segundo mandato – embora algumas pessoas no setor de contabilidade acreditassem que ele poderia continuar.
A convergência entre o Iasb e o órgão responsável pelos padrões dos Estados Unidos, algo fortemente defendido por Tweedie, não está prevista antes de meados de 2011 e muitos participantes do setor acham que levará ainda mais tempo para ser alcançada.
O início da busca chega em um momento delicado para o Iasb, em meio à pressão por um conjunto global de padrões contábeis de alta qualidade , uma questão cada vez mais de ordem política na Europa e EUA.
Indicar o sucessor de David Tweedie será uma tarefa complicada, tendo em vista a função e a polêmica que o cargo atrai, segundo auditores em altos postos. A especificação do cargo no Iasb para este papel “muito prestigiado e de alta graduação” exige habilidade de liderança, conhecimento técnico contábil, sensibilidade política e “alto nível de habilidade em relações públicas”.
São qualidades que “poucas pessoas possuem”, diz Peter Wyman, da empresa de auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC). “É um trabalho para um super-herói.”
A busca também ocorre depois de discussões públicas entre o Iasb e Bruxelas. Em novembro, vieram à tona profundas divisões no bloco europeu, quando Bruxelas surpreendeu os contadores ao postergar a introdução das regras contábeis internacionais que focavam a controversa questão do “valor justo”, também conhecida como a contabilidade com marcação a mercado. Isso aconteceu justamente quando estavam sendo anunciadas na maior parte do resto do mundo, sem incluir os EUA.
Os bancos, seguradoras e contadores do Reino Unido apoiaram as propostas, mas foram superados na votação por França, Alemanha e Itália, que pediram mais tempo para conduzir uma avaliação independente das análises do Iasb.
O mandato de Tweedie vem sendo marcado pelo lançamento bem-sucedido de um conjunto único de padrões contábeis em mais de cem países – embora ele tenha uma relação problemática com algumas autoridades europeias. Ele é conhecido na França como o “aiatolá da contabilidade” por suas visões francas e diretas, que enervaram políticos no país.