Os mercados de bônus ficaram alarmados ontem com a notícia de que a Nakheel, o braço imobiliário da Dubai World, está reestruturando um bônus que deveria ser resgatado no mês que vem. A Dubai World, com dívidas totais de cerca de U$ 60 bilhões, é controlada pelo governo de Dubai e isso está levando investidores a temerem implicações maiores se o anúncio da Nakheel for considerado um default técnico.
A Dubai World é presidida pelo sultão Bin Sulayem, um dos principais responsáveis pelo transformação de Dubai em um centro financeiro e comercial regional.
Operadores acreditavam que o governo iria usar os recursos de uma emissão de bônus de US$ 5 bilhões, realizada ontem, para financiar os resgates iminentes. Em vez disso, um anúncio do departamento de finanças de Dubai pediu a todos os investidores da Dubai World e da Nakheel que “não se movimentem” e ampliem os prazos de vencimento para pelo menos 30 de maio do ano que vem.
A Dubai World sugeriu aos credores um acordo para “paralisar” os pagamentos enquanto negocia o adiamento de uma dívida que inclui US$ 3,52 bilhões da Nakheel, que venceria em 14 de dezembro.
O governo de Dubai captou US$ 1,93 bilhão no mês passado, em sua primeira venda de bônus islâmicos, que atraiu demanda de mais de US$ 6,3 bilhões. Os títulos, denominados em dólar e com vencimento em 2014, são governados pela Sharia, ou direito islâmico, que proíbe os investidores de lucrarem com juros.
A Dubai World tinha US$ 59,3 bilhões em dívidas e US$ 99,6 bilhões em total de ativos no fim de 2008, segundo informou a Nakheel em agosto. Dubai deve US$ 4,3 bilhões com vencimento no mês que vem e US$ 4,9 bilhões no primeiro trimestre de 2010, através de dívidas do governo e das empresas, segundo mostram dados do Deutsche Bank AG.
O preço da securitização da dívida de Dubai contra “defaults” subiu bastante com a notícia do adiamento. Ontem em Londres, no fim do dia, o custo de securitização de US$ 10 milhões em dívidas de Dubai contra um default estava em cerca de US$ 460 mil ao ano por cinco anos, comparado a US$ 360 mil na terça-feira. Os preços subiram para outros emirados da região, com a proteção contra um default a dívida de Abu Dhabi passando para US$ 157,5 mil, em comparação aos US$ 100 mil na terça-feira.
O governo de Dubai disse ontem que tomou emprestado US$ 5 bilhões de bancos controlados pelo governo de Abu Dhabi. “O tamanho da reação mostra que os investidores estão vendo isso como uma notícia terrível”, disse Rob Whichello, diretor da mesa de bônus sindicalizados do BNP Paribas para a Europa Central e do Leste e Oriente Médio. “Eles ficaram surpresos com o anúncio, pois claramente esperavam que alguma coisa seria resolvida.”
Os acontecimentos se desenrolam num momento particularmente delicado para os investidores em bônus governamentais, que já ficaram preocupados esta semana com o grande aumento no custo de proteção contra default da Grécia, país membro da zona do euro.
A Dubai World, que tem como lema “O Sol Nunca se Põe em Dubai World”, é um dos três veículos de investimentos estratégicos do emirado. Os outros dois são a Dubai Holding, o veículo pessoal do xeque Mohammed bin Rashid al Maktoum, o governante do emirado, e a Investment Corporation of Dubai. A subsidiária mais conhecida da Dubai World é a DP World, a quarta maior operadora de portos do mundo.
Este mês, a agência Moody’s rebaixou a classificação da DP World de “A1” para “A3”, que ainda representa grau de investimento. A agência disse que como resultado da exposição da companhia aos mercados emergentes da África, Oriente Médio e Ásia, a DP World “permaneceu resistente o suficiente” durante a recessão econômica.
“Não há nada de que os investidores gostem menos do que esse tipo de acontecimento”, disse Norval Loftus, diretor de bônus conversíveis e títulos islâmicos do Matrix Group Ltd. de Londres, que administra US$ 2,5 bilhões de ativos, inclusive créditos de Dubai. “O pior cenário é, naturalmente, a reestruturação involuntária dos títulos da Nakheel, que levanta perguntas quanto a toda a natureza da capacidade de os Estados apoiarem os vários tomadores da região.”
A Nakheel sofreu com a queda dos valores dos imóveis em Dubai. Ela foi responsável pela construção das famosas ilhas artificiais em forma de palmeiras nas águas do Golfo Pérsico.