Em meio à crise financeira, 3,59 milhões de brasileiros contraíram dívidas superiores a R$ 5 mil no sistema financeiro. O dado consta de levantamento do Banco Central (BC), que mostra o comportamento do endividamento no auge da crise. Entre as operações que mais cresceram no período, estão o crédito consignado e o financiamento imobiliário, segmentos em que os bancos públicos passaram, a pedido do governo, a atuar mais fortemente desde o agravamento da crise.
Dados do Sistema de Informações de Crédito (SCR) mostram que, no fim de agosto, 20,83 milhões de pessoas mantinham empréstimo superior a R$ 5 mil nas instituições financeiras. O universo é 20,8% maior que o registrado 12 meses antes, em agosto de 2008, exatamente o último mês antes do agravamento da crise financeira.
O aumento do número de pessoas endividadas aconteceu, na avaliação do governo, “de maneira saudável” porque foram privilegiados empréstimos para o consumo e aquisição de bens e imóveis, operações que geram reflexos positivos na atividade econômica. Não houve explosão nos empréstimos mais caros e que são a última alternativa em caso de dificuldade financeira, como o cheque especial e cartão de crédito.
Passada a crise, o governo entende que esses 3,5 milhões de brasileiros que contraíram dívidas para consumir foram, junto com as medidas de desoneração, algumas das peças mais importantes no motor que permitiu ao Brasil reagir rapidamente à crise financeira.
Nesses 12 meses, o volume do crédito consignado cresceu 33,1% e somou R$ 99,6 bilhões em agosto. Com o desempenho, a operação já responde por 17% de toda a dívida das pessoas físicas. Outro segmento em destaque foi o imobiliário, que avançou 42,6% e atingiu R$ 76 bilhões.
Os financiamentos para a compra de imóveis já correspondem a 12,5% de todo o endividamento das famílias. Na mesma comparação, operações mais caras cresceram menos: o uso do crédito rotativo avançou 8,9% e do cheque especial, 10,5%.
“O governo flexibilizou as regras do consignado, despejou muito crédito imobiliário e a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil cresceram em ritmo forte. Parte importante desse movimento foi efeito da política deliberada do governo para facilitar o crédito e, assim, manter a demanda aquecida”, diz o professor de finanças do Insper, Ricardo José de Almeida.
Para ele, a reação da economia mostra que o plano foi bem sucedido, com manutenção das vendas no varejo e reação rápida na construção civil, segmentos que têm grande capacidade de gerar empregos e ampliar o efeito positivo do crédito na economia.
DÍVIDA MÉDIA. Os dados do SCR mostram ainda que, na média, brasileiros com empréstimos superiores a R$ 5 mil deviam R$ 20.512 aos bancos em agosto de 2009. O valor é R$ 556 menor que o observado 12 meses antes. A queda é avaliada positivamente pelo especialista em finanças do Insper. “É um bom indício, porque mostra que o crédito está mais pulverizado entre os clientes, o que diminui a concentração em determinados segmentos e pode mostrar o maior acesso dos clientes de renda menor”, diz.
O SCR é um sistema do BC alimentado mensalmente pelas instituições financeiras que são obrigadas a detalhar todos os empréstimos com valor superior a R$ 5 mil. Para a autoridade monetária, os dados servem para avaliar a exposição ao risco de bancos e financeiras. Para as instituições financeiras, permite avaliar o risco e o endividamento de cada cliente antes da liberação de um novo empréstimo.