As críticas às decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) já não ecoam como antes. Representantes do empresariado se dizem cansados de fazer as mesmas reclamações contra a timidez no corte da taxa básica de juros (Selic) a cada reunião do Comitê, a cada 45 dias. Ontem, quando foi anunciada a manutenção da Selic em 8,75% ao mês, não foi diferente.
A pressão das lideranças empresariais já começa, no entanto, a mudar da Selic para os elevados spreads bancários – a diferença entre a taxa que as instituições pagam para captar recursos e a taxa cobrada nos financiamentos para consumidores e empresas.
“Antes, eu dava entrevistas e comentava as decisões, mas agora a minha assessoria redige uma nota que eu nem leio”, disse ao Estado, na terça-feira, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.
Ontem, em nota divulgada pela Fiesp, que não se sabe se foi lida por Skaf, o presidente da entidade diz que acha “muito cansativo, tanto para nós quanto para a sociedade, a Fiesp ficar repetindo a mesma coisa a cada anúncio da taxa Selic feito pelo Copom.” Ponderou, no entanto, que, “se batendo na mesma tecla muito pouco tem mudado, imaginem então se ficássemos calados.”
A nota da Fiesp diz que a entidade continuará a pedir a redução da Selic. “Assim, continuaremos sendo repetitivos enquanto faltar visão à política monetária neste País. Desculpe-nos pela chatice, mas foi preciso, outra vez.”
Diferente de Skaf, o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alencar Burti, mudou de atitude. Trocou as críticas aos pequenos cortes nos juros realizados pelo Copom por um discurso elogioso à política do BC. “Analisando os mercados, eu comecei a compreender a atuação do (Henrique)Meirelles (presidente do BC)e passei a defendê-lo, e fui criticado por isso”.
É provável que Burti continue a ser criticado, porque, em nota divulgada ontem, ele voltou a elogiar o presidente do BC. “A condução do Banco Central, e sua diretoria, sob a competente regência do seu presidente, Henrique Meirelles, tem dado resultados positivos para a economia como um todo”, disse ele.
O presidente da Associação Comercial diz que o problema para o varejo não é a taxa Selic, mas os elevados spreads bancários. “O que me preocupa muito são os juros que chegam para o pequeno e médio empresário e os consumidores”, disse Burti. “Seria preciso aliviar a carga tributária que recai sobre o spread, que inclui juro e risco, para reduzir a elevada taxa que os consumidores pagam.”
O presidente da Fiesp concorda que o problema maior é o spread, mas diz que a inadimplência não justifica o spread alto. “Veja, o Banco do Brasil baixou o spread e foi o banco mais lucrativo no semestre.”
Skaf disse que as pressões exercidas pela sociedade, com o apoio da chamada ala progressista do governo Lula, levaram a uma queda do spread. Primeiro por parte dos bancos públicos, o que forçou os bancos privados a diminuir seus spreads também. “Mesmo assim, os spreads dos nossos bancos privados ainda estão entre os mais altos do mundo”, reclamou o presidente da Fiesp.