Caso o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, decida se filiar a um partido político até 3 de outubro, esta decisão deverá provocar ruídos no mercado financeiro sobre a trajetória da condução da política monetária no curto prazo, comentou o estrategista do banco WestLB, Roberto Padovani. “Na medida em que ele continue no cargo ao longo dos meses, estes ruídos aumentarão”, disse. O dia 3 de outubro é a data final determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que candidatos tenham suas fichas de filiação aceitas por partidos políticos. Se Meirelles decidir concorrer a um cargo público no próximo ano, ele terá de deixar o BC até abril do ano que vem.
Na avaliação de Padovani, contudo, não será significativa a eventual tensão dos investidores que poderia ser gerada por uma candidatura de Meirelles a um cargo público no próximo ano. Para ele, tal fato não será expressivo a ponto de alterar a trajetória da curva de juros a termo. Isso porque a decisão sobre a direção dos juros no País é definida por um colegiado, o Comitê de Política Monetária (Copom), que, na convicção de Padovani, promove o debate técnico e não permite que prevaleça qualquer avaliação influenciada por pressões políticas. “O Copom se reúne de forma periódica, suas regras são conhecidas e é uma instituição consolidada, que atua há dez anos”, destacou.
Sem manifestar uma opinião sobre se Meirelles deve ou não deixar o cargo, Roberto Padovani disse que as dúvidas sobre possíveis efeitos de uma eventual filiação de Meirelles a um partido político ocorrem porque o Banco Central não tem a autonomia garantida por lei. “Esse é um problema grave, uma falha institucional séria no nosso País. Se a independência do BC já fosse um fato consumado, não haveria chances para surgirem incertezas relevantes sobre a continuidade da boa gestão da política monetária”, afirmou.
Padovani acredita que uma eventual saída de Henrique Meirelles do Banco Central em 2010 não deve alterar as diretrizes que pautam as reuniões do Copom, basicamente marcadas para preservar a estabilidade dos preços e cumprir a meta de inflação, definida em 4,5% para o próximo ano. No caso de Meirelles deixar o cargo, o que não é uma hipótese já cristalizada, ele acredita que há boas chances de o seu eventual sucessor ser algum dos atuais diretores do BC.
Padovani também evita falar em nomes possíveis para o posto. Como a condução da política monetária não deve mudar, ele acredita que o País deve seguir o atual curso de recuperação, com o PIB avançando 4,2% no ano que vem, depois de registrar uma queda de 0,2% em 2009, provocada pelos efeitos da crise internacional iniciada no último trimestre de 2008.