Os Bric não são uma organização, nem um bloco e nem têm diálogo formalmente estabelecido. A expectativa brasileira é de que o encontro de amanhã deflagre na prática uma “institucionalização flexível” do grupo, com reunião anual dos chefes de Estado e mais encontros entre ministros. A ideia é acertar posições comuns frente ao G-8 e ao G-20, onde decisões sobre o futuro da economia mundial vem sendo tomadas.
“Bric” é um acrônimo criado pelo banco de investimentos Goldman Sachs para ilustrar a emergência do Brasil, Rússia, China e Índia como incontornáveis na futura ordem econômica e política global. Juntos, têm 26% do território do planeta, mais de 40% da população mundial, e suas reservas internacionais estão próximas de US$ 3 trilhões.
Os quatro só têm 13% da produção global, bem menor do que a fatia dos EUA. Mas o National Intelligence Council (NIC), entidade do governo americano ligado a agências de inteligência, avalia que os Bric terão cada vez mais influência e o sistema internacional que saiu da Segunda Guerra Mundial será irreconhecível dentro de 15 anos.
Para certos analistas, o grupo “Bric” não existe porque cada um é diferente e tem pouco a ver com o outro – e são mais concorrentes do que cooperadores entre si. A diferença geográfica e histórica dita diferentes agendas geopolíticas e de segurança. Há conflitos entre eles em política, principalmente entre China, Rússia e Índia. O Brasil é visto como o que pode aparar arestas e “ajudar a reconstruir o tecido internacional”, diz o NIC.
Também há assimetrias. Na última década, o crescimento médio real da economia foi de 10% na China, 7% na Índia e na Rússia e de 3,3% no Brasil. Foram afetados de forma diferente pela crise, com a Rússia sendo a mais atingida. A China continuará a crescer mais rapidamente que os outros.
A diferença também ocorre em participações internacionais. Rússia e China são membros do Conselho de Segurança da ONU e têm pouco interesse em abrir esse diretório político para outros sócios permanentes. Moscou também já tem assento no G-8. Por sua vez, certos analistas e ex-autoridades americanas propõem o estabelecimento do G-2, formado por EUA e China, pelo peso de ambos no cenário internacional.
Para o ministro russo Seguei Lavrov, os Bric derivam “da vida real” e têm que discutir a proteção de interesses comuns. Para o chanceler Celso Amorim, os Bric são um processo em formação, e não necessariamente um bloco. “Podemos ter posições comuns e cada um ter suas próprias visões”, diz Amorim.