Uma recuperação muito lenta da atividade econômica, grande hiato do produto e os modelos de projeção de inflação, que apontam para uma taxa abaixo do centro da meta em 2009 e 2010, foram as razões para o Comitê de Política Monetária cortar os juros básicos da economia em um ponto percentual, acima do esperado pelos analistas econômicos. O hiato do produto, medida do quanto a economia pode crescer sem provocar a aceleração da inflação, permanece bastante elevado, criando ambiente favorável para a estabilidade de preços dentro do horizonte relevante para a política monetária.
Na reunião de quarta-feira Copom decidiu, por seis votos a dois, reduzir os juros básicos de 10,25% para 9,25% ao ano, sem viés, o que significa que a taxa permanecerá nesse patamar até a próxima reunião do colegiado, marcada para os dias 21 e 22 de julho. Dois membros do comitê queriam um corte mais comedido, de apenas 0,75 ponto, em linha com as expectativas dominantes dos analistas.
“Levando em conta que mudanças da taxa básica de juros têm efeitos sobre a atividade econômica e sobre a dinâmica inflacionária que se acumulam ao longo do tempo, o comitê concorda que qualquer flexibilização monetária adicional deverá ser implementada de maneira mais parcimoniosa”, afirma a nota divulgada após o encontro. “O Copom acompanhará atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação até a sua próxima reunião, para então definir os próximos passos da estratégia de política monetária.”
Autoridades do governo interpretaram a expressão “parcimoniosa” como um indicativo de que a política monetária seguirá sua instância expansionista, mas com movimentos menores do que os feitos até agora. Desde janeiro, o Copom cortou os juros básicos em 4,5 pontos, de 13,75% para 9,25%.
Segundo a leitura de uma fonte oficial, o mercado entendeu “de forma imediatista” os números do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que registra recuo de 0,8% em relação ao período imediatamente anterior, mais suave do que retrações iguais ou superiores a 1,5% esperadas por analistas econômicos. Na terça-feira, quando os dados do PIB foram divulgados, os juros futuros chegaram a subir, numa aposta de que, com o PIB menos negativo, o BC teria espaço reduzido para cortar a Selic. No dia seguinte, os mercados devolveram um pouco da alta.
Avaliação colhida pelo Valor dentro do governo é que, embora os dados não tenham sido tão negativos como os inicialmente esperados, a recuperação da economia ocorre ainda de forma bastante tênue – o que torna improvável o preenchimento do hiato do produto dentro do prazo relevante da política de juros. Diminuições de juros chegam à atividade com defasagem de três a seis meses, e, na inflação, com defasagem entre seis e nove meses. Os números sobre a atividade econômica, de acordo com esse entendimento, não são nem um pouco exuberantes.
Embora o movimento feito pelo BC tenha sido maior do que o esperado pelo mercado, não se espera, dentro do governo, uma reação negativa dos juros futuros. Em parte porque, dentro dos prognósticos do mercado, estava incluída a hipótese de os juros terminarem o ano em 9% ao ano, de acordo com a pesquisa de mercado do BC, que levanta as projeções de cerca de 100 analistas econômicos. A ousadia, segundo esse raciocínio, seria ter cortado os juros em um ponto percentual agora. Mas o movimento total continua dentro das expectativas, ainda mais porque o BC sinaliza que, daqui por diante, os cortes serão menores.
Uma incógnita é como os mercados irão interpretar a dissidência dentro do Copom. Se for mantida a tradição, é provável que a ata da reunião de anteontem, a ser divulgada na semana que vem, detalhe os argumentos dos membros mais conservadores do Copom. A interpretação corrente dentro do governo é que essa ala mais conservadora teme que, mais adiante, a economia reaja mais fortemente, acelerando a inflação, depois de a Selic cair bem abaixo do que seria a taxa de juros de equilíbrio. Outro argumento é o das incertezas que envolvem os mecanismos de transmissão da política monetária. Os cortes acumulados até agora somam 4,5 pontos percentuais e os primeiros efeitos sobre a economia vão começar a aparecer apenas no segundo semestre.