O déficit em transações correntes em março atingiu US$ 1,645 bilhão. Com isso, há um saldo negativo de US$ 5 bilhões acumulado no primeiro trimestre, conforme indicam os dados consolidados das contas externas de março divulgados ontem pelo chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes.
Apesar de admitir que o déficit em transações correntes de março ter sido maior do que era projetado pelo próprio BC, Lopes destacou que não representa tendência. O técnico do BC ressaltou que, em compensação, houve forte queda nas remessas de lucros e dividendos em relação a 2008 e que está sendo mantido o ritmo de chegada de dinheiro estrangeiro por meio de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), fatores que equilibram o balanço de pagamentos.
“O resultado em transações correntes veio um pouco pior que as expectativas e retrata uma remessa um pouco mais forte de lucros e dividendos. Tivemos uma remessa expressiva por uma instituição financeira que retornou esse recurso na forma da aquisição de uma empresa seguradora”, disse Lopes. “Para o balanço de pagamentos o efeito foi neutro, mas acabou gerando impacto no resultado em transações correntes”, afirmou. De qualquer forma, o resultado é bem mais confortável que o rombo de US$ 4,343 bilhões de março de 2008.
Todos os indicadores das contas externas estão mais acomodados em 2009, quando comparados aos resultados do início de 2008. As remessas de lucros e dividendos atingiram US$ 1,755 bilhão em março passado (queda de 50,6% sobre os US$ 4,345 bilhões de março do ano passado) e US$ 3,556 bilhões no trimestre (retração de 58,9% sobre o primeiro trimestre de 2008).
Para abril, há expectativa por “continuidade da acomodação”, com estimativa de que o total de remessas e lucros e dividendos atinja US$ 15 bilhões no ano.
Além de estancar a remessa de lucros e dividendos, os estrangeiros voltaram a fazer investimentos em carteira. As aplicações em ações no País foram de US$ 844 milhões em março. “Foi o primeiro ingresso efetivo de recursos nessa modalidade desde maio de 2008”, disse Lopes. Para o mercado de renda fixa, outros US$ 708 milhões foram injetados no Brasil. E abril registra a continuidade desses ingressos. “Até o dia 22, para ações, temos US$ 650 milhões de ingressos. Para renda fixa no País, US$ 237 milhões.”
Investimento estrangeiro
O chefe do Departamento Econômico do BC ressaltou que os Investimentos Estrangeiros Diretos somaram US$ 1,444 bilhão em março e US$ 5,342 bilhões no trimestre, mais do que suficiente para sanar o déficit em transações correntes. Lopes disse que o resultado de março ficou um pouco abaixo das projeções, impactado por operações realizadas no final do mês.
Por enquanto, o volume de IED é considerado razoável pelo BC dentro do atual cenário de crise mundial, mas abaixo do que era registrado em 2008. Em março do ano passado, o fluxo de IED atingiu US$ 3,093 bilhões, somando US$ 8,799 bilhões no primeiro trimestre. Em abril, o fluxo de IED deverá somar mais US$ 2,3 bilhões, estimou Lopes, considerando que até o dia 22 já ingressaram US$ 2 bilhões. Para todo o ano de 2009, o BC projeta recebimento de US$ 25 bilhões em IED, superávit de US$ 17 bilhões na balança comercial e déficit de US$ 16 bilhões em transações correntes.
Permanecem baixas as taxas de rolagem das linhas de crédito, atingindo média geral de 52% em março e de 44% no resultado parcial de abril. Isso gera redução do endividamento externo total dos setores público e privado, que caiu de US$ 161,896 bilhões, em dezembro, para US$ 160,325 bilhões, em março. Segundo Lopes, a dívida de médio e longo prazos foi atingida pela queda das taxas de rolagem, enquanto que a dívida de curto prazo sofreu com a escassez de linhas externas para o comércio.
Lopes divulgou também a posição do câmbio contratado até 22 de abril, com superávit de US$ 1,003 bilhão nas operações comerciais e saldo negativo de US$ 446 milhões na conta financeira, gerando um resultado positivo final de US$ 557 milhões.
Em março, os brasileiros gastaram US$ 618 milhões em viagens internacionais, quase 18% a menos que em igual período do ano passado. Em compensação, os gastos de estrangeiros no Brasil caíram apenas 4,6%, atingindo US$ 494 milhões no mês passado, frente US$ 518 milhões em março de 2008. Essa nova tendência reduziu a pressão sobre o déficit final da conta de viagens (diferença entre os gastos dos brasileiros no exterior e as despesas de estrangeiros no Brasil), que fechou o mês passado com saldo negativo de US$ 124 milhões, contra US$ 233 milhões de igual período do ano passado. Em abril, esse déficit voltou a aumentar, e atingiu US$ 206 milhões no acumulado até o dia 22.