A defesa intransigente que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vem fazendo da sua política monetária – considerada por ele conservadora mas “sem excessos” – estimulou o mercado futuro de juros a “realizar” os lucros decorrentes do forte movimento declinante descrito nas últimas semanas. Os “vendidos” em taxa, os que ganham com a queda dos juros futuros, desfizeram-se um pouco da posição para avaliar o cenário. São eles os investidores estrangeiros (posição “vendida” em R$ 91,05 bilhões) e os fundos nacionais (R$ 61,29 bilhões). Os “comprados”, que embolsaram ontem bons lucros por causa da alta dos DIs, são os bancos nacionais, com posição de R$ 117,53 bilhões. Por causa dos alertas de Meirelles e da percepção de parte dos analistas, compartilhada por ele, de que já pode estar em curso um processo de recuperação da economia brasileira, os juros futuros subiram em bloco ontem, contrariando a tranquilidade reinante nos mercados de câmbio e ações. O dólar subiu 0,09%, para R$ 2,1730, enquanto a Bovespa já testa os 46 mil pontos.
O CDI previsto para o fim do ano avançou de de 9,67% para 9,73%. A taxa para janeiro de 2011 subiu de 10,42% para 10,49%. O contrato longo mais negociado, com vencimento em janeiro de 2012, evoluiu de 11,08% para 11,14%. O piso do custo do dinheiro privado – a taxa do swap de 360 dias – subiu de 9,85% para 9,90%. Após as declarações recentes do presidente do BC o mercado ficou com a impressão de que o próximo Copom, marcado para o dia 29, tenderá a suavizar o ritmo de corte da taxa Selic. A velocidade de queda diminuiria do 1,5 ponto aplicado na reunião de março para 1 ponto agora. Com isso, o juro básico cairia dos atuais 11,25% para 10,25%. Com esta decisão, o Copom ganharia mais 45 dias antes de se decidir por uma Selic de apenas um dígito – território completamente desconhecido pela autoridade monetária, uma aterrorizante zona proibida. Mas o pífio volume negociado no pregão de ontem do DI futuro desqualifica a relevância das altas e dos seus alertas ocultos. Foram movimentados tão-somente 317,4 mil contratos. Tal giro diminuto denuncia que, na verdade, não está ocorrendo nenhuma mudança significativa, nem no posicionamento básico dos players, nem em suas opiniões sobre os rumos da política monetária. Em pregões onde há a percepção de que algo importante está para acontecer o movimento supera facilmente os 500 mil.
Uma diminuição agora no compasso de queda da Selic colide com um dos pilares da política de metas, o foco ajustado às expectativas de curto prazo de inflação e aos índices de longo prazo. Ambos estão em pesada queda. A projeção de IPCA para este ano do boletim Focus cedeu pela sexta semana consecutiva. A estimativa recuou de 4,26% para 4,25%. Mais importante, a expectativa para 2010 persistiu em baixa. Caiu de 4,46% para 4,42%. E a previsão ainda está hipercautelosa. Os analistas não se esquecem de que as próximas decisões monetárias só surtiram pleno efeito no ano que vem. E os sinais inflacionários para 2010 são todos muitos reconfortantes. Para a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, o recuo dos índices gerais de preços neste início de ano, fortemente influenciado pelas quedas dos preços no atacado, tem contribuído para a melhora das expectativas para a inflação ao consumidor neste ano, mas, principalmente, para o recuo das expectativas de inflação para 2010.
Pelos seus cálculos, os IGPs acumulam deflação de quase 1% no primeiro trimestre do ano, graças à queda de 2% nos preços no atacado. Com estimativa de nova queda importante em abril, a projeção do Fibra para o IGP-M acumulado no primeiro quadrimestre do ano é de deflação de 1,5%, o que reduz o prognóstico para o ano para alta de 2%. “Mais do que impactar a inflação corrente, essa reversão na trajetória dos IGPs muda de maneira importante a perspectiva para a inflação de 2010”, diz a economista. Enquanto em 2009 os preços monitorados e regidos por contratos devem ter como índice de reajuste o elevado IGP de 2008, em 2010 essa situação se inverte e a correção destes preços deverá seguir os baixos IGPs de 2009. Como esse grupo de preços responde por cerca de 30% do IPCA, esse efeito deve ser relevante sobre a evolução dos índices de preços ao consumidor no próximo ano. “Em nosso cenário, estimamos um recuo do IPCA de 4% neste ano para 3,5% em 2010”, diz Ansanelli, para quem o Copom deveria insistir no ritmo de corte de 1,5 ponto.