O Banco Central prevê US$ 25 bilhões de investimentos diretos em 2009. Esse número pode ser visto de duas formas. Na visão pessimista, significa queda de 44,4% em relação ao recorde de US$ 45 bilhões de 2008. Na visão otimista, em meio a uma severa crise financeira, o volume de investimentos irá superar a média de US$ 22 bilhões observada desde o Plano Real, de 1994.
Até então, os fluxos de investimentos diretos tinham ficado imunes às crises. Em 1997, por exemplo, o Brasil foi atingido pela crise asiática, e no ano seguinte os investimentos cresceram 52%, chegando a US$ 29 bilhões. Em 1998, houve a moratória russa, e os investimentos mantiveram-se em US$ 29 bilhões em 1999.
Há várias teorias para explicar a estabilidade dos investimentos diretos. A mais aceita é que os investidores têm uma visão de longo prazo e não estão interessados nas flutuações de curto prazo. “O Brasil tem grande potencial de crescimento, ao contrário das economias desenvolvidas, que têm mercados saturados”, afirma Luiz Afonso Lima, da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).
Dois economistas do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), Marcelo José Braga Nonnenberg e Mário Jorge Cardoso de Mendonça, descobriram, a partir de dados de 33 países em desenvolvimento, que o tamanho e o ritmo de crescimento da economia são os principais determinantes dos investimentos diretos, bem à frente de variáveis como risco e inflação.
Os estudos mostram também uma forte inércia nos investimentos. Antonio Corrêa Lacerda, professor da PUC-SP, afirma que países com maior estoque de investimentos diretos tendem a ter maior fluxo de investimentos. “As empresas tem que fazer investimentos mínimos para manter a competitividade”, afirma.
Lima, da Sobeet, lembra que os investimentos diretos se tornaram mais pulverizados, com maior presença dos emergentes, e a diversidade de origem favorece a continuidade dos fluxos. Também aumentou a pulverização no ingresso de investimentos. Em 2008, 48,3% dos investimentos eram de operações até US$ 100 milhões.
Mas então porque a crise vai reduzir os fluxos de investimentos em 2009? Para o BC, a crise atual é diferente das anteriores porque levou a uma forte contração na liquidez mundial. Há menos recursos disponíveis para bancar os investimentos.