Ao participar, ontem, da comemoração dos 65 anos da Polícia Federal (PF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a instituição tem um “papel sagrado” para a segurança do país e pediu discrição aos agentes nas operações da instituição. O presidente criticou aqueles que fazem “pirotecnia” com as ações da PF.
O presidente Lula ressaltou que a Polícia Federal não precisa ficar aparecendo e apelou para que os policiais deixem a exposição para os políticos. “Deixem que nós, políticos, apareçamos na televisão. Porque nós, políticos, abrimos a geladeira de manhã para pegar uma água e já damos uma entrevista,” afirmou o presidente, na sede da instituição, em Brasília.
“Nem o Poder Judiciário, nem o Ministério Público, nem a Polícia Federal precisam disso. O que vocês precisam é de agir com a seriedade que notabilizou a história de vocês, porque quanto mais vocês agirem assim, mais respeitados vocês serão”, afirmou Lula.
Corrupção e caspa
O presidente estimulou que os agentes continuem no combate à corrupção. Segundo ele, existe um contra-senso no país, pois quanto mais ações prendem corruptos, mais as pessoas entendem que a corrupção tem crescido no país. E lançou mais uma metáfora: “A corrupção é uma doença que só aparece quando é combatida. Quando não é combatida, até parece caspa antes de as pessoas pentearem o cabelo.”
Lula brincou ainda dizendo que os policiais não devem agora fazer greve, já que, segundo o ministro da Justiça, Tarso Genro, a categoria teve aumento salarial de 60% durante o atual governo.
O diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, negou ontem que a Operação Castelo de Areia tenha tido como foco investigar partidos políticos. A operação, deflagrada anteontem, resultou na prisão de quatro diretores e duas secretárias da empreiteira Camargo Corrêa, acusados de superfaturamento de obras públicas e remessa ilegal de recursos para o exterior.
Partidos
As investigações da PF apontam que a construtora teria feito doações ilegais para sete partidos políticos nas eleições de 2008. Corrêa argumentou que o foco da operação eram crimes financeiros e lavagem de dinheiro e que a PF “cruzou com os dados” envolvendo os partidos, e os repassou à Justiça, como é de sua responsabilidade.
“Não foi esse o foco [eleitoral]. Mas se esse foco se caracterizar crime, vamos apurar, independente de partido. A Polícia Federal não atua pautada por questões político-partidárias”, disse, após a cerimônia em comemoração aos 65 anos da instituição, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os partidos que teriam recebido o dinheiro são PPS, PSB, PDT, DEM, PP, PSDB e PS. O DEM afirmou que pedirá à Justiça de São Paulo todos os documentos referentes à operação. E ameaçou ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso seja necessário para obter as informações e documentos.
“Se esses eventuais repasses são lícitos ou ilícitos, a PF não faz juízo de valor”, afirmou Corrêa, acrescentando que as investigações chegaram ao público por decisão do juiz federal Fausto De Sanctis, que divulgou relatório da Polícia Federal.