O dirigente e executivo-chefe do American Internacional Group Inc. (AIG), Edward Liddy, disse ontem, em depoimento a um painel da Câmara norte-americana, que o corpo de dirigentes do Federal Reserve, o banco central dos EUA, tinha conhecimento dos planos da seguradora em pagar US$ 165 milhões em bônus a executivos, algo que provocou uma tempestade política.
Liddy, em testemunho ao Subcomitê de Mercado de Capitais dos Serviços Financeiros, disse que as decisões de pagar os bônus aos executivos da AIG foram tomadas “em cooperação” com funcionários do Federal Reserve bem antes do dinheiro ter sido pago em 15 de março. “Tudo o que fizemos foi em parceria com o Federal Reserve”, disse Liddy. “Eles têm a habilidade de determinar algo a favor ou contra sobre tudo em discussão”.
Liddy acrescentou que “nós falamos sobre isso com o corpo de dirigentes e com representantes do Fed literalmente por três meses”, disse Liddy. Liddy também afirmou que a empresa pediu a alguns dos seus empregados que receberam bônus que devolvam pelo menos metade do dinheiro, pago nos últimos dias. Segundo ele, a AIG pediu aos empregados da divisão de produtos financeiros que receberam mais de US$ 100 mil que devolvam pelo menos metade do pagamento.
A AIG tomou a medida enquanto os congressistas norte-americanos planejam intimar a AIG para que a empresa apresente uma lista com os nomes de todos os executivos que receberam os US$ 165 milhões em bônus, algo que mesmo Liddy descreveu como “repugnante”. Liddy afirmou que a AIG “ouviu claramente o povo norte-americano nos últimos dias”, e afirmou que alguns empregados até se apresentaram para devolver o bônus inteiro.
Pressionado para fundamentar por que foi necessário pagar em primeiro lugar os US$ 165 milhões em bônus a seus executivos, Liddy explicou que o departamento de produtos financeiros tinha US$ 1,6 bilhão aplicados em investimentos de risco e que precisava de funcionários experimentados para resolver a situação.
Em seu depoimento Liddy afirmou que a AIG foi obrigada a pagar os bônus, mas garantiu que a empresa tirou as lições de seus erros. “Erros foram cometidos dentro da AIG, em uma escala que poucas pessoas poderiam ter imaginado”, disse Liddy. Liddy também afirmou que está se esforçando com sua equipe dirigente para reerguer a seguradora, com o objetivo de devolver o dinheiro emprestado pelo Estado desde 2008 para evitar a falência. Atualmente, o Estado controla quase 80% da AIG.
O secretário do Tesouro, Tim Geithner, disse, na terça-feira, que a AIG terá que devolver a totalidade dos polêmicos bônus pagos a seus executivos. Além disso, uma quantia equivalente será deduzida dos US$ 30 bilhões suplementares prometidos pelo Estado à seguradora. Diante da ira da opinião pública e do Congresso, Geithner anunciou uma aceleração do desmantelamento da seguradora.
LIQUIDAÇÃO. A AIG será liquidada em quatro anos, segundo revelou ontem o presidente do grupo. Liddy foi designado pelo governo para administrar a AIG, em setembro passado, após o socorro federal à seguradora. “Esta companhia deverá estar menor no final de 2009, e ainda menor no fim de 2010”, declarou Liddy, acrescentando que “quanto menor estiver, menor será o risco”. Perguntado sobre quanto tempo levará este processo, Liddy respondeu: “Quatro anos”, antes de acrescentar que o grupo “vai vender seus ativos e que a companhia, tal como existe há 90 anos, vai deixar de existir”. O secretário americano do Tesouro, Timothy Geithner, já havia anunciado na véspera a liquidação da AIG de “maneira ordenada”.