A crise global atingiu a economia brasileira com força no quarto trimestre. Com a queda de 3,6% do Produto Interno Bruto na comparação com o terceiro trimestre, o país está mais perto de um crescimento zero ou mesmo de uma recessão em 2009. No ano, o PIB cresceu 5,1%.
Algumas das bases de sustentação da expansão econômica foram atingidas. O consumo das famílias, em alta por cinco anos, caiu 2%. Os investimentos tiveram uma freada brusca e, na comparação do último trimestre com o anterior, caíram de 8,4% para -9,8%. Do recuo só escapou o consumo do governo, que avançou 0,5% no período e 5,5% no ano. É na capacidade de execução de obras de infraestrutura e habitação pelo governo que reside a perspectiva de alguma recuperação do investimento em 2009.
“Pioraram as perspectivas em 2009, aumentando a probabilidade de taxas próximas de zero ou mesmo negativas”, diz relatório da A.C. Pastore & Associados, do ex-presidente do Banco Central, Affonso Pastore. O cenário é ruim e a consultoria não vê possibilidades de que o consumo das famílias, do governo e os investimentos voltem a se expandir. O BNP Paribas e o Barclays Capital projetam recuo de 1,5% em 2009. Na ponta mais otimista, a LCA Consultores aposta em alta de 1,5% a 2% do PIB.
Marcelo Carvalho, economista do Morgan Stanley, já considera otimista sua previsão de crescimento zero feita no fim de 2008. O tombo do último trimestre piorou a herança estatística (“carry-over”) de 2008 para 2009, que ficou negativa em 1,5%. Se a economia não crescer nada em relação a dezembro, o PIB terá contração de 1,5%. Para crescer 1% em 2009, o PIB terá de avançar 1% a cada trimestre – e ele prevê nova queda nestes primeiros três meses.
Para Luiz Carlos Mendonça de Barros, a economia pode se recuperar no segundo semestre, com uma queda mais agressiva dos juros e se a crise americana não se agravar. Ele prevê que o PIB ficará entre zero e -0,5%.
O presidente Lula disse que já esperava um resultado negativo e que “o crédito começa a se normalizar”. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou dois trimestres consecutivos de retração, o que caracterizaria uma recessão técnica, e disse que o país crescerá em 2009. Nenhum dos dois se arriscou a fazer novas projeções.
A queda do PIB aumentou a pressão para que o Copom decida por um corte mais agressivo dos juros hoje.