O ano começa com as principais agências de classificação de risco soberano atentas ao Brasil. As maiores preocupações dizem respeito à reação que terão os indicadores macroeconômicos do País ao longo da fase mais aguda da crise global. O desaquecimento econômico, cujo principal reflexo é a maior pressão sobre o saldo da balança comercial, trará novos desafios e a necessidade de gerenciar as reservas cambiais, de cerca de US$ 200 bilhões. \”Para as receitas oriundas de exportações, que vinham crescendo ao redor de 20% ao ano, estamos prevendo uma estagnação em 2009 e 2010. A boa nova é que isso não deve se traduzir em aumento de déficit em conta corrente, que deve ficar estável em 2,5% do PIB, o que é completamente administrável, principalmente com reservas externas tão robustas\”, afirma o diretor-executivo da Fitch Ratings, Rafael Guedes.
A forma como o Banco Central (BC) utilizará o mecanismo será decisiva para dar tranqüilidade ao mercado, aponta o especialista. \”Neste momento, uma variável muito importante é a atuação do BC. Não há um nível mínimo de manutenção ou uso das reservas. Em um instante de intranqüilidade, um volume aparentemente confortável passa a não ser mais\”, exemplifica Guedes.
A Standard & Poor’s, que elevou a nota dos títulos da dívida soberana brasileira para grau de investimento em abril do ano passado, também considera que o gerenciamento das questões que envolvem câmbio uma das mais importantes para que o Brasil possa sair-se melhor ao longo das turbulências. \”É importante manter o BC com um certo grau de independência, além de manter as políticas fiscal e monetária. A resposta do Banco Central à valorização do dólar foi positiva. Afinal, o câmbio flexível permite que suas taxas incorporem uma certa volatilidade\”, exemplifica o diretor para ratings soberanos da agência, Sebastián Briozzo.
Menos despesas
Uma das premissas do aumento da nota do País foi a flexibilidade em enfrentar crises. Pesou nessa análise, principalmente, o comprometimento do governo federal com a manutenção de um superávit primário na faixa dos 3,8% do PIB. Prosseguir nesse ritmo, porém, será mais difícil com a crise. \”O governo tem crescido 12%, 13% de suas receitas, o que tornou muito fácil, em um cenário como era o anterior, registrar um superávit primário robusto, mesmo sem ser necessariamente muito rígido com as despesas do governo, que têm crescido no mesmo ritmo\”, adverte Rafael Guedes, da Fitch.
Avaliação parecida tem a Moody’s. \”Um dos riscos que o agravamento da crise pode trazer para o Brasil é a necessidade de ajustar as despesas para garantir o declínio da dívida pública ao longo do tempo\”, afirma Mauro Leos, analista senior da agência para análise de risco soberano.
Não crer na capacidade – e vontade – do governo em reduzir suas despesas foi um sos principais motivos que levaram a agência a não conceder aos títulos soberanos brasileiros a classificação de grau de investimento. \”Uma das preocupações estava associada à persistente tendência ascendente das despesas primárias\”, lembra Leos.
Embora satisfeita com a melhora no perfil das contas externas brasileiras, a Standard &Poor’s concorda que reformas seriam importantes para fortalecer o País diante da crise. \”Claramente, países com níveis de dívida menores têm maior margem de manobra para realizar políticas anticíclicas\”, compara Briozzo.
Bandeiras retomadas
Em tempos de indefinições, velhas bandeiras das agências de rating – como a reforma do sistema previdenciário – ganham espaço. A explicação para defendê-la é simples: com uma máquina menor para custear, o governo poderia aumentar seus níveis de investimento. \”Há uma correlação clara entre investimento e crescimento. Os países que se destacam em crescimento crescem mais de 25%. A China investe 40% de seu PIB; a India 33%. O Brasil investe entre 15% e 20%, o que já é uma melhora fantástica em relação a outros anos\”, diz Rafael Guedes, da Fitch.
Segundo o executivo, isso, porém, só será possível com a realização de reformas. \”Outro dia, conversava com um norte-americano que dizia que o país já está discutindo o seu sistema previdenciário, que ficará deficitário apenas em 2017\”, compara.
A Moody’s não crê que o Legislativo brasileiro aprove nenhuma reforma neste ano. \”Qualquer governo enfrenta uma reduzida capacidade de empurrar sua agenda legislativa quando chega ao fim. E a reforma previdenciária é necessária\”, diz Leos.