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18 de abril de 2024Gente sorridente, plataformas operando a pleno vapor, produção de som e imagem impecável: cinco anos atrás, as propagandas da Petrobras eram dignas da maior empresa brasileira e a oitava do mundo. Conseguiam emocionar e provocar um nacionalismo embalado pela euforia do pré-sal, uma camada nas profundezas do oceano que guardava petróleo e, junto com ele, “um outro país”, como definia um dos anúncios exibidos à época na tevê.
Ao virar sexagenária, no ano passado, a estatal toda-poderosa perdeu a majestade. Degringolou. Em vez de fazer festa, teve de se preocupar em montar gabinetes de crise às pressas. Passou a ser investigada no Brasil e nos Estados Unidos. A lama de denúncias de corrupção se espalhou como vazamento de óleo sobre o mar, com o mesmo auê das pomposas descobertas de petróleo. Desde 2007, a Petrobras perdeu R$ 247,4 bilhões em valor de mercado e parcela incalculável de seu prestígio.
Como a petroleira protagonista do maior descobrimento de óleo e gás em duas décadas conseguiu arranhar tanto a própria imagem? Como a empresa responsável, em 2010, pela maior capitalização da história do mercado de capitais – R$ 120,3 bilhões – deixou a credibilidade definhar tanto? A resposta pode ser tão simples quanto embaraçosa: ela sucumbiu aos interesses políticos do governo federal – o acionista controlador – e seus aliados.
A Petrobras fez a façanha de se tornar líder mundial em perda de valor de mercado: de 2007 até este mês, a queda foi de quase 60%, segundo levantamento feito pela Economatica a pedido do Estado de Minas. Nesses sete anos, o valor médio das ações da companhia despencou pela metade. Hoje, a orientação é fugir dos papéis que por tanto tempo serviram de porta de entrada para os estreantes em renda variável.
O tombo provocado pelas denúncias de gestão temerária não se restringiu ao universo do mercado financeiro. A redução da nota de crédito da empresa pela agência de classificação de risco Moody’s, no mês passado, devido ao “alto grau de endividamento”, e a investigação por parte do governo dos Estados Unidos e da Securities Exchange Commission (SEC) – a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) norte-americana –, deixam clara a magnitude do estrago.
Ter os malfeitos da Petrobras apurados por órgãos internacionais constrange o Brasil, no entender do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Adilson de Oliveira. Ele lembra que as decisões da estatal sempre tramitaram em ao menos três níveis técnicos antes da aprovação final da diretoria executiva. “Se isso mudou, foi um retrocesso na blindagem contra ingerências, em vigor desde os militares”, lamentou.
Diretor de Abastecimento da Petrobras de 2004 a 2012, Paulo Roberto Costa, pivô do escândalo que pode ter desviado R$ 10 bilhões dos cofres da estatal, foi longe demais. O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro José Augusto Nardes, anunciou esta semana já existirem indícios de pelo menos R$ 3 bilhões do montante surrupiado.
O tempo em permaneceu na cúpula foi suficiente para Costa comandar transações nebulosas, como a bizarra compra de uma refinaria em Pasadena (EUA), por um preço exorbitantemente maior que o de mercado e provocar prejuízo estimado em US$ 1 bilhão. Na construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, os rolos de Costa teriam ocasionado superfaturamento de R$ 367 milhões, conforme o TCU.
No mês passado, a estatal informou que estuda medidas jurídicas para ressarcir os “danos sofridos”. Enquanto isso, na Bolsa de Valores, os investidores não perdoam e as ações sofrem quedas. Com Costa direcionando contratos e cobrando comissões a serem distribuídas entre partidos, a estatal caiu do topo do ranking das maiores empresas do país e agora é superada pela Ambev e pelo Itaú. A Petrobras se ressentiu ainda com situações como o represamento de preços dos combustíveis para segurar a inflação e ajudar a reeleição da presidente Dilma Rousseff. “A empresa foi capturada pela política: deixou de ser dos brasileiros e passou a funcionar para atender partidos e a um projeto de poder. Vê-la nas páginas policiais é o fim do mundo”, observou o diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), Adriano Pires.