Bolhas são uma característica inerente dos mercados. Aliás, mais que isso, são algo intrínseco à natureza humana. Em relatório divulgado este mês, Shane Oliver, economista e estrategista-chefe da AMP Capital analisa o assunto e indica os principais alvos de uma possível bolha que já estaria em processo de formação.
Como observa Oliver, frequentemente a formação de bolhas no mercado e na economia internacional tem como pano de fundo os resquícios de bolhas anteriores – exemplos não faltam na história financeira para comprovar tal constatação.
O economista lembra o caso da bolha nos mercados de ações asiáticos em meados dos anos 1990, ocasionada sobretudo pelas “cinzas do colapso da bolha na bolsa japonesa no começo da década”. Por sua vez, a crise na Ásia entre 1997 e 1998 teria gerado as condições que, posteriormente, levaram à bolha tecnológica do começo dos anos 2000.
Mais flexibilização por vir
“Seguindo esse padrão, seria correto assumir que o intenso fluxo de moeda atualmente no mundo, como conseqüência das políticas implementadas para fazer frente à crise norte-americana, já está ditando as bases para a formação de uma nova bolha”, alerta Oliver.
Aliás, o economista observa que, além das medidas já exercidas nos últimos anos, uma nova rodada de flexibilização monetária deve estar por vir nas economias desenvolvidas. “O Fed vem cogitando retomar seus programas de aquisição de ativos, o Japão já o fez e o Bank of England também parece rumar para o mesmo caminho”, diz.
O resultado final, na visão de Shane Oliver, é o estabelecimento de um cenário monetário global ainda mais propício a uma nova bolha, “a não ser que a economia norte-americana engate um duplo mergulho e volte ao quadro de recessão, o que não consta em nossas projeções”.
Possíveis alvos
Caso se confirme, novas medidas de flexibilização em tais países colocarão ainda mais pressão sobre o desempenho do dólar, do iene, da libra esterlina e do euro em relação às divisas emergentes, além de trazer também pressão ascendente sobre as cotações das commodities.
Não à toa, Oliver acredita que os principais possíveis alvos de uma nova bolha sejam justamente ações de mercados emergentes e commodities – dois mercados, por sinal, profundamente ligados entre si. Para o economista, os investidores têm apostado cada vez mais em papéis emergentes, que atravessaram a crise financeira “em razoável boa forma”. Por sua vez, as commodities tornam-se cada vez mais atrativas em função do bom crescimento econômico dos países em desenvolvimento.
Bolha? Não por ora
No entanto, ao mesmo tempo em que delineia os possíveis alvos, Oliver não vê razão para grande temor – ao menos não por ora. O estrategista observa que papéis emergentes seguem operando a múltiplos similares aos de papéis de mercados desenvolvidos, o que não sugere que os ativos estejam supervalorizados e sujeitos a uma bolha.
De forma semelhante, as principais commodities, “embora tenham experimentado expressiva trajetória de valorização nos últimos dezoito meses”, seguem abaixo de suas máximas históricas conquistadas predominantemente em 2008.
A conclusão de Oliver é simples: de fato, as atuais condições monetárias devem dar origem a formação de uma nova bolha, cujos principais alvos são ações de países emergentes e commodities. “No entanto, a ausência de indícios de supervalorização de tais ativos sugere que ainda estamos no começo de tal processo que deve culminar somente em muitos anos à frente, trazendo aos investidores muitas oportunidades nesse meio tempo”.