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18 de abril de 2024Desde os primórdios do capitalismo, a principal premissa de uma empresa – qualquer empresa – é ganhar o máximo de dinheiro possível.
Nestes tempos de grandes transformações na sociedade, e que levaram também a mudanças no mundo corporativo, novos sistemas econômicos vêm ganhando espaço.
Um deles, chamado de capitalismo consciente, prevê que as companhias gerem valor para a sociedade e não busquem apenas o lucro.
Agora, a Uber, uma das empresas mais inovadoras do mundo, parece disposta a inventar uma terceira via: a das corporações que jamais serão lucrativas.
Em um prospecto de mais de 300 páginas enviado à Securities and Exchange Commission (SEC, na sigla em inglês), órgão regulador do mercado financeiro dos Estados Unidos, a Uber admitiu que talvez jamais seja lucrativa.
“Esperamos que nossas despesas operacionais aumentem significativamente em um futuro previsível”, disse a companhia, em comunicado, acrescentando que “podemos não alcançar o lucro”.
O documento foi escrito para embasar seu processo de abertura de capital, previsto para as próximas semanas e que deverá ser o maior do mundo, em 2019. O que era para ser uma espécie de motivador para os investidores acabou se tornando um sinal de alerta. Quem, afinal, vai se interessar por uma empresa que, segundo ela própria, não vai gerar resultados financeiros consistentes?
Além de colocar em xeque os lucros futuros, a Uber elencou uma série de riscos que podem comprometer a viabilidade do negócio.
Entre eles, as encrencas na Justiça (como os motoristas não mantêm relação trabalhista formal com a empresa, correm nos tribunais inúmeras ações), as perdas bilionárias geradas por seu aplicativo de delivery de alimentos, a Uber Eats, e a falta de regulamentação, em diversos países, que podem impedir a própria operação de transporte de passageiros.
O documento não poderia ter tido uma repercussão pior. Em um artigo cheio de ironias, o jornal inglês Financial Times definiu assim a defesa que a Uber fez da sua abertura de capital: “A empresa precisa de dinheiro para financiar um negócio que não dá dinheiro”.
Embora, de fato, tenha transformado o mundo, à medida que barateou o transporte de passageiros e o tornou acessível para milhões de pessoas, a Uber é uma gigante de resultados financeiros pífios.
No ano passado, seus prejuízos totalizaram US$ 3 bilhões – o equivalente às vendas líquidas de um ano inteiro de uma empresa do porte do Magazine Luiza, um dos maiores varejistas do Brasil.
Por mais que a empresa venha tentando ajustar o modelo de negócios para minimizar as perdas financeiras, ela tem pela frente um mercado cada vez mais desafiador.
Fundada em 2009, em São Francisco, na Califórnia, o berço da inovação nos Estados Unidos, a empresa vem sofrendo cada vez mais com o aumento da concorrência.
CONCORRÊNCIA A Uber compete na América Latina com a chinesa Didi Chuxing, dona da 99, com a Ola, na Índia, e com a Careem, no Oriente Médio.
Criadas sob a inspiração da Uber, essas empresas não só copiaram o modelo da rival como, em alguns casos, aprimoraram o sistema. Na China, a Didi está avaliada em US$ 50 bilhões, o que a torna a segunda startup mais valiosa do mundo, atrás justamente da Uber, com valor de mercado estimado entre US$ 90 bilhões e US$ 100 bilhões.
Logo depois do impacto negativo gerado pelo documento enviado às autoridades americanas, o presidente da Uber, Dara Khosrowshahi, divulgou um texto para destacar as qualidades do negócio.
“Alguns dos atributos que fizeram da Uber uma startup de incrível sucesso – um senso feroz de empreendedorismo, nossa disposição de correr riscos que outros podem não aceitar, e a garra que tornou a Uber famosa – resultaram em alguns tropeços ao longo do caminho”, escreveu o executivo.
Ele prosseguiu na defesa do negócio. “Na realidade, quando cheguei à Uber como presidente-executivo, muita gente me perguntou por que escolhi deixar a estabilidade de meu emprego anterior para assumir um posto que seria tudo, menos tranquilo”, continuou o presidente.
“Minha resposta foi simples: a Uber é uma dessas empresas que surgem uma vez por geração, e as oportunidades que existem diante dela são imensas.”