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18 de abril de 2024A Turquia se retirou oficialmente nesta quinta-feira (1º) da Convenção de Istambul, um tratado internacional que protege as mulheres contra a violência sexista, numa decisão que rendeu ao presidente Recep Tayyip Erdogan fortes críticas.
A decisão foi anunciada pelo governo em março. Nesta quinta, dia em que entra em vigor, manifestações foram convocadas em vários pontos da Turquia.
A decisão de Erdogan coincide com um aumento dos feminicídios no país. Por isso, provocou a ira de organizações de direitos humanos e críticas da União Europeia (UE), dos Estados Unidos e da ONU.
Milhares de mulheres protestaram em todo o país em março para denunciar a medida, por considerar que ela poderia gerar um sentimento de impunidade nos agressores.
Várias associações convocaram manifestações para esta noite em toda a Turquia, como em Istambul.
O tratado, assinado pelo país em 2011 e ratificado por 34 países do Conselho da Europa, é o primeiro instrumento supranacional que estabelece normas para prevenir a violência contra as mulheres.
A Turquia, o primeiro Estado a assiná-lo, é também o primeiro a se retirar.
O governo turco argumentou que o tratado \”ignora os valores familiares\” e \”normaliza a homossexualidade\”, uma vez que exige que não haja discriminação com base na orientação sexual.
Ao contrário do que acontece na maior parte dos países de maioria muçulmana, a homossexualidade não é ilegal na Turquia, mas há uma homofobia evidente.
Os analistas consideram que a decisão de Erdogan se explica, sobretudo, pelo desejo de contar com o apoio do eleitorado mais conservador em um momento em que o país atravessa retração econômica significativa, antes das eleições de 2023.
Além de retirar a Turquia da Convenção de Istambul, Erdogan fez várias declarações nos últimos meses consideradas homofóbicas por associações de defesa dos direitos da comunidade LGBTQIA+.
Mesmo assim, ciente do perigo de se voltar contra os eleitores, Erdogan divulgou nesta quinta-feira um \”plano de ação\” de combate à violência sexista, que incluiria, por exemplo, a revisão da legislação e melhor treinamento dos magistrados nesses temas.
\”Alguns tentam apresentar nossa retirada da Convenção de Istambul […] como um recuo. Nossa luta contra a violência contra as mulheres não começou com o acordo e não terminará com essa retirada\”, defendeu Erdogan.
Vários partidos da oposição advertiram que farão todo o possível para que a Turquia volte a aderir ao acordo.
Alguns oponentes apelaram aos tribunais para impedir a medida, mas seus recursos foram rejeitados.
\”Esta retirada envia uma mensagem perigosa para aqueles que cometem atos violentos, mutilam e matam: eles estão sendo informados de que podem continuar a fazê-lo com total impunidade\”, reagiu a chefe da Anistia Internacional, Agnès Callamard.
De fato, as associações de defesa dos direitos das mulheres temem que a violência aumente, embora a situação já seja crítica.
Em 2020, 300 mulheres foram assassinadas na Turquia por seus parceiros ou ex-parceiros e o número chega a 189 no primeiro semestre de 2021, de acordo com o grupo de direitos das mulheres \”Vamos Acabar com o Femicídio\”.