Vários países já lidaram com problemas de dívida antes. Mas os recentes temores quanto a dívidas governamentais que agora atingem alguns mercados europeus estão sendo alimentados por um instrumento relativamente novo, que permite aos investidores apostar contra os títulos emitidos por um país.
Os swaps de crédito, ou CDS, permitem que o investidor se proteja contra a moratória da dívida de países ou aposte na probabilidade de que ela aconteça.
Nas últimas semanas, os preços dos contratos de CDS dispararam por causa da demanda de investidores preocupados com o aumento da dívida de vários países, como Portugal, Espanha, Grécia e Letônia. A oscilação dos CDS – bastante visível e muito observada – aumentou os temores dos que investem em ações e papéis de renda fixa, segundo analistas, aumentando a pressão sobre os mercados mundiais.
Ontem voltou a aumentar o custo dos contratos de CDS que servem como seguro para a dívida de vários países membros da zona do euro com grandes déficits públicos. O custo anual de fazer o seguro de US$ 10 milhões da dívida do governo grego contra moratória por cinco anos subiu US$ 26.000 para US$ 423.000.
Os CDS são contratos que servem como garantia contra todo tipo de dívidas. No caso da dívida soberana, se um país declara moratória, o comprador do CDS será pago pelo vendedor do seguro em CDS. Embora sejam raros os casos de moratória de um governo, o valor dos contratos de CDS sobe e desce para refletir a visão dos investidores acerca dos títulos segurados por esses instrumentos.
O mercado de CDS teve uma forte expansão nos últimos anos. Há sete anos, havia menos de US$ 3 trilhões em contratos de CDS no mercado; hoje há mais de US$ 25 trilhões, segundo a Associação Internacional de Swaps e Derivativos.
Quando os preços dos CDS da dívida de firmas como a American International Group Inc. e a Lehman Brothers Holdings Inc. dispararam em 2008, os investidores interpretaram esse movimento como sinal de problemas pela frente.
O mesmo está acontecendo agora com o aumento dos preços dos CDS de diversos países, representando uma das primeiras possíveis crises de dívida governamental na qual os contratos de CDS estão ajudando a espalhar a sensação de insegurança. Isso está criando outra medida em tempo real das preocupações dos investidores – um termômetro que também é capaz de gerar mais ansiedade.
“É mais fácil comprar proteção e fazer uma transação a descoberto. Essa é metade da razão pela qual os CDS foram criados, para que as pessoas possam se proteger contra os riscos”, diz Tim Backshall, estrategista-chefe da Credit Derivatives Research, firma de análise independente de Nova York. “É possível mover [outros mercados] com essas transações.”
Sempre foi possível vender a descoberto – ou apostar diretamente contra – os títulos governamentais. Mas os investidores dizem que comprar CDS pode ser uma maneira mais fácil de fazer uma aposta rapidamente.
Um dos motivos é que os CDS podem ser comprados por investidores que não possuem papéis da dívida subjacente, mas querem apostar que ela provavelmente vai se enfraquecer, ou seja, os swaps podem ser comprados não só por quem está protegendo outras apostas, mas também por investidores que fazem apostas diretas.
Um comprador de CDS em geral não precisa oferecer tantas garantias para fazer uma aposta de queda quanto o investidor teria que fazer para realizar uma aposta semelhante no mercado de títulos do governo.
Por exemplo, algumas corretoras permitem que o investidor aposte contra US$ 10 milhões da dívida da Grécia pagando inicialmente apenas US$ 2 milhões e depois fazendo pagamentos trimestrais de cerca de US$ 105.000. Se esse mesmo investidor quisesse vender a descoberto a dívida do governo grego, ou tomar emprestado e vendê-la na esperança de uma queda no preço, ele poderia ter que aplicar até US$ 10 milhões em uma conta com uma firma de corretagem.
Alguns já criticaram os CDS como indicadores do sentimento, notando que esses instrumentos por vezes sugerem que um país está rumando para a moratória ainda que o rendimento dos títulos emitidos por ele não indique esse desfecho negativo. Os contratos também nem sempre têm um movimento intenso de transações, o que abre a porta para oscilações potencialmente fortes dos preços.
“O mercado de CDS está refletindo onde os corretores estão dispostos a formar um mercado”, diz Matt Luckett, sócio da Balestra Capital, firma de fundo de hedge que comprou contratos de CDS que protegem diversas dívidas governamentais. “Quando os corretores ficam sem vendedores” de CDS, os preços podem ter uma alta acentuada simplesmente por falta de oferta.
Segundo alguns analistas, o mercado de CDS não deveria levar a culpa pela atual turbulência. Assim como algumas empresas financeiras atraíram operadores de venda a descoberto em 2008, quando enfrentaram problemas sérios, países como Portugal, Espanha e Grécia acumularam dívidas e ainda não convenceram os investidores de que vão botar ordem na sua situação fiscal. Essa é a verdadeira razão subjacente dos problema, e não as transações em CDS, segundo alguns.
Para alguns países, como a Grécia, os títulos do governo na verdade oscilaram mais do que os preços dos CDS nos últimos meses – sugerindo que as negociações com CDS serviram como garantia para o mercado, e não como preocupação. Nos últimos dias, porém, essa tendência se reverteu.
“Acusar o mercado de CDS pelos problemas agrada ao espírito populista de cada um, mas neste caso é difícil argumentar contra os fundamentos que estão se deteriorando”, diz Backshall.