Os açougueiros e os padeiros de Genebra não gostam que lhes façam preleções sobre os males do sigilo bancário, da mesma forma como recusariam um pedido para abrir mão de suas tradicionais salsichas defumadas cervelat, de carne de porco e de boi, ou de suas barras de chocolate com formato da montanha Matterhorn. “Temos a nossa cervelat, o nosso Toblerone e o nosso sigilo bancário, e sou a favor de mantê-lo”, disse Jacky Bula, 60, que tem uma banca de carnes e frios no mercado Halle de Rive. “Só porque somos um país pequeno, não há motivo para os outros nos dizerem o que devemos fazer.”
Essa teimosia poderá ameaçar os esforços da Suíça no sentido de negociar novos acordos fiscais, o que poderia desencadear sanções e, consequentemente, reduzir as exportações dos relógios Cartier, dos chocolates Lindt e do queijo Emmentaler. Uma tradição de democracia direta, que já dura 700 anos, significa que os eleitores têm o direito de exigir que se faça um referendo sobre qualquer acordo, e os suíços não gostam de se sentirem intimidados, disse Stephane Garelli, professor da escola de administração de empresas IMD, em Lausanne.
“Este é um país de montanhas e vales, em que os fazendeiros dependem de uma comunidade pequena para se proteger”, disse Garelli, que também é diretor do Centro Mundial de Competitividade. “Eles não gostam de ser pressionados.” Não é fácil persuadir os suíços a aceitarem mudanças.
Para aqueles que se opõem a mudanças nas regras do sigilo bancário, é só obter 50 mil assinaturas, em um país de 7,6 milhões de habitantes, para conseguir realizar um plebiscito sobre o assunto. Há um “grande” risco de os eleitores rejeitarem um tratado, mesmo se isso significar ignorar as recomendações do governo, disse Garelli.
Os eleitores suíços aprovaram a proibição, por cinco anos, ao cultivo de produtos transgênicos em novembro de 2005. Quase dois anos antes, eles haviam dado as costas ao governo, ao sancionarem a prisão perpétua para alguns crimes sexuais e violentos.
“Listas negras são uma ameaça para políticos e diplomatas, não para as pessoas comuns”, disse Michel Dérobert, secretário- geral da Associação Suíça de Bancos Privados. “Pode-se pressionar um governo ou um diplomata, mas não se pode pressionar um confeiteiro ou um fabricante de velas.”
Em fevereiro, autoridades europeias ameaçaram impor penalidades não especificadas aos paraísos fiscais que não colaborarem. A Suíça está entre os oito países que, desde então, concordaram em adotar os padrões da OCDE para o intercâmbio de informações fiscais. Eventuais sanções podem significar que os governos pressionariam as empresas de seus países a não fazer negócios com seus parceiros comerciais suíços, disse Alfred Mettler, consultor do governo sobre sigilo bancário e professor associado da faculdade de administração de empresas Robinson da Universidade Estadual da Geórgia, campus de Atlanta, nos EUA.