Na sua última semana na chefia do Ministério Público Federal, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou, nesta quinta-feira, 14,, que sabia do custo por enfrentar um \”modelo político corrupto\” e afirmou que o Brasil \”convulsiona no processo curativo do combate à corrupção\”. O discurso de Janot foi feito ao final da sessão plenária do Supremo Tribunal Federal (STF), a sua última como procurador-geral da República.
Já o ministro do STF, Gilmar Mendes, habitual crítico de Rodrigo Janot, usou trecho de um poema para se referir à despedida de Janot instantes antes da última sessão do PGR. \”Eu diria em relação ao procurador-geral Janot uma frase de Bocage: \’Que saiba morrer quem viver não soube\’\”, disse Gilmar Mendes, citando o poeta português Manoel Maria Barbosa Du Bocage.
Na quarta-feira, 13, por 9 a 0, o STF rejeitou um recurso formulado pela defesa do presidente Michel Temer para que Janot fosse afastado das investigações contra o presidente no caso JBS. Gilmar esteve ausente no julgamento.
\”Tenho sofrido nessa jornada, que não poucas vezes pareceu-me inglória, toda a sorte de ataques. Mesmo antes de começar, sabia exatamente que haveria um custo por enfrentar esse modelo político corrupto e produtor de corrupção, cimentado por anos de impunidade e de descaso. Mas tudo isso, para mim, já se encontra nos escombros do passado\”, disse Janot.
Nesta quinta, Gilmar Mendes se encontrou com a sucessora de Janot, a nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge em Brasília.
Em seu discurso, Janot disse que nos momentos cruciais da Lava Jato, o Supremo Tribunal Federal \”foi firme, respeitou as leis e a Constituição, mas não se acovardou\”. Para Janot, a Corte tem desempenhado o papel de \”esteio da estabilidade institucional e democrática\”. \”Esse papel, para a tranquilidade de todos nós, brasileiros, vem sendo cumprido com a excelência que se poderia esperar dessa vetusta e honrada casa\”, comentou.
\”Entrego o cargo no próximo dia 17, sem qualquer jactância (vaidade, arrogância), mas com a convicção serena de que militei até o último instante na defesa dos compromissos constitucionais assumidos há mais de 30 anos\”, afirmou Janot.
Em nome do STF, a presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, agradeceu o trabalho de Janot. \”Como bem disse, (o senhor) honrou, como todos que têm ocupado a cadeira de procurador-geral da República, tem honrado os trabalhos dessa tão importante instituição para a democracia brasileira\”, afirmou Cármen, dirigindo-se a Janot.
Ao falar da transitoriedade dos ocupantes de cargos, Cármen frisou que a \”Justiça é permanente e será devidamente honrada e reverenciada\”.