O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deverá manter em 8,75% ao ano, pela terceira vez consecutiva, a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic), em sua próxima reunião, amanhã e quarta-feira. A avaliação é unânime entre 21 analistas ouvidos pelo Jornal do Commercio e pela agência Bloomberg. De acordo com os analistas, somente em meados de 2010 haverá alteração na política do BC, com elevação de juros.
Para os entrevistados, os fatores que levaram o Copom a cortar a Selic não oferecem mais riscos à economia brasileira – os impactos da crise internacional não estão tão fortes quanto no primeiro semestre deste ano, a inflação está sob controle e a oferta de crédito se expandiu nos últimos meses.
A Selic vinha em trajetória descendente desde janeiro deste ano, quando o Copom fez corte de 1 ponto percentual, para 12,75% ao ano. Em junho, a taxa chegou pela primeira vez a patamar inferior a dois dígitos e desde julho está no nível atual.
“O Banco Central está se preservando, está observando o comportamento da demanda, que certamente tem uma tendência de elevação a partir do segundo trimestre do ano que vem. Só então o BC deve iniciar a retomada da elevação da taxa de juros”, disse o presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef-SP), Walter Machado de Barros.
estrangeiros. Segundo ele, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) está recebendo muitos recursos estrangeiros, o que deve ajudar a desenvolver o segmento industrial. “Este aumento de produção da indústria vai ao encontro da demanda do mercado e talvez esse possa ser um fator que faça o BC aguardar mais um pouco a elevação da taxa.”
Walter Machado de Barros afirmou que os cortes no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) promovidos para os setores de eletrodomésticos, móveis e automóveis podem ampliar a pressão inflacionária no País. “Isto pode ser um fator para que o BC eleve a taxa de juros. Estas medidas foram adequadas no auge da crise, para aumentar a demanda, mas a forma como o governo está fazendo, prolongando este benefício, começa a não se fazer tão necessária”, disse. “Este é um fator que contribui para elevar o consumo e se as indústrias não tiverem estoques suficientes para atendimento certamente o BC vai ter que elevar a taxa Selic.”
Para a economista chefe do Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, a manutenção da taxa seria o comportamento ideal esperado do Banco Central no momento. “A economia nacional está mostrando sinais de retomada. Diversos setores estão se reerguendo, como a indústria e o comércio, além do crédito para pessoa física”, comentou. “O BC deve manter este resultado ao longo do próximo ano. Se começar a sinalizar mudanças antes de mexer na Selic, o governo deve elevar o compulsório.”
De acordo com o sócio-tesoureiro do Banco Modal, Eduardo Cotrim, o fato de o BC manter as mesmas palavras nos dois últimos comunicados das reuniões do Copom indica que a autoridade monetária deve manter também a taxa no mesmo patamar nesta semana.
“A leitura que fazemos é que haverá necessidade de aumento da taxa de juros para o ano que vem, provavelmente no segundo trimestre. Então, se o BC fizer alguma movimentação em termos de comunicado o mercado vai antecipar essa mudança e acreditar que a instituição já está planejando elevar a taxa já em janeiro ou março.”
Cotrim foi ainda mais longe nas previsões. “O consenso de mercado projeta uma aumento de 2,5 a 3 pontos percentuais da Selic em 2010. Isto distribuído ao longo do ano, depois de abril. Seria bastante razoável. Chegando ao fim de 2010, no máximo, a 11,75%. A elevação é gradual de acordo com as respostas e a situação econômica.”
Segundo o analista da LCA Consultores, Braulio Borges, há necessidade de elevar a taxa no próximo ano, pois em 2011 o risco inflacionário será grande. “Mesmo com o PIB crescendo ano que vem 5,6%, que é a nossa expectativa, o risco de descumprimeto da meta de inflação está em 2011. Por isso o BC não precisaria mexer na Selic tão cedo. A Selic deve terminar 2010 em 10% e não deve parar por ai, deve chegar a abril de 2011 em 11,25% e ficaria estável ao longo de 2011. Isso considerando o cenário econômico atual.”
Na avaliação do presidente do Sindicato das Financeiras do Estado do Rio de Janeiro (Secif-RJ), José Arthur Assunção, ao contrário do que projeta o mercado futuro, o Brasil tem condições de voltar a promover novos cortes na Selic no próximo ano.
novo status. “É preciso lembrar, a cada dia, que o Brasil mudou de status internacionalmente. Nós não precisamos mais trabalhar com juros altíssimos para atrair capital estrangeiro, por exemplo. Muito pelo contrário. Já fazemos parte de um seleto rol de nações e é crendo nisso fielmente que penso ser até possível uma nova redução dos juros em 2010.”
Para Assunção, nem a inflação, que seria um obstáculo, se constitui num grande problema. “Muitos consideram que um forte crescimento econômico, nos próximos anos, poderia ser um fator que dificulte a queda dos juros pela possibilidade de pressionar a inflação, mas a tendência da curva de inflação é declinante. Se pegarmos os últimos doze meses do IPCA, por exemplo, a taxa já está abaixo da meta de 4,5%. Tenho absoluta certeza que o investimento no País será fortíssimo. Vem muito capital por aí, o que contribui para fortalecer o real.”