Se o Copom do Banco Central não respeitar amanhã o corte de 0,75 ponto da Selic já consagrado na curva desenhada pelos juros futuros, e diminuir a taxa básica em 0,25 ou 0,50 ponto, não estará iniciando o prometido ciclo de afrouxamento da política monetária. Estará, na verdade, fazendo um reaperto monetário, pois uma baixa menor do que a \”precificada\” pelo pregão de DI futuro da BM&F provocará uma alta generalizada nos juros futuros. E são estes juros, mais do que a Selic, os que formam o custo do dinheiro privado.
Os dados de desemprego divulgados ontem pelo governo – extinção de quase 655 mil vagas formais em dezembro – derrubaram os juros futuros e consolidaram a aposta de que o Copom irá amanhã reduzir a Selic de 13,75% para 13%, iniciando um ciclo de relaxamento que só terminará quando o juro chegar a 11,25% no final do ano, segundo perspectiva do Boletim Focus do BC. As cinco instituições do mercado que mais acertam prognósticos no âmbito do Focus confirmaram, na pesquisa encerrada na sexta-feira, o consenso de baixa de 0,75 ponto na taxa básica. O BC não precisa esperar mais nada. A economia brasileira foi abalroada de frente pela crise mundial.
A taxa do swap de 360 dias – verdadeiro piso básico para o custo do dinheiro da economia brasileira – recuou ontem de 11,42% para 11,35%. Ou seja, se alguém for tomar dinheiro por um ano a taxa de referência sobre a qual será acrescentado um diferencial específico será de 11,35% e não de 13,75% ou 13%. A decisão que o Copom tomará amanhã é se concorda ou não com esses 11,35%. Se limitar o seu corte a 0,50 ponto estará dizendo ao DI futuro que acha esses 11,35% muito baixos, incapazes de dar conta das pressões inflacionárias que vê para o período. Se cortar a Selic no ritmo precificado de 0,75 ponto informará ao mercado que a sua percepção coincide com a das instituições. Dará, desta forma, o seu aval para que continuem reagindo aos indicadores da hora sobre o enfraquecimento da economia. Se, no entanto, aprofundar a baixa para 1% estará agindo para forçar reduções ainda maiores no custo privado do dinheiro. Estará dizendo que esses 11,35% são um piso muito caro para a atual conjuntura de inflação fraca e atividade débil. Em face da virulência da crise externa, a tendência é de o mercado não duvidar do prognóstico do Copom se ele resolver diminuir a taxa de 13,75% para 12,75%. Não irá interpretar o gesto como leniência de natureza política, caso em que se revoltaria e, por sua conta e risco, subiria a taxa pela qual aceitaria comprar títulos do Tesouro Nacional.
Roberto Padovani, estrategista-chefe do Banco WestLB, ecoa o sentimento do mercado segundo o qual a variável crítica para se mensurar o ritmo de afrouxamento monetário será o nível corrente e esperado da atividade econômica. A desaceleração na indústria é significativa, o que vem agindo para reduzir continuamente as projeções de crescimento para 2009. Além da indústria, raciocina o economista, a probabilidade de que o mercado de trabalho também mostre contração implica riscos adicionais ao crescimento por afetar as condições de renda e, com isso, as vendas no varejo. Para Padovani, que projeta corte inicial da Selic de 0,75 ponto e uma magnitude total do ciclo de 2,5 pontos, a decisão do BC será tranqüila porque não há como negar que o risco inflacionário está caindo. \”É bastante provável que um crescimento abaixo do potencial, associado a preços bem comportados de commodities, mais que compense as pressões inflacionárias advindas da desvalorização cambial\”, diz Padovani. Com mais informações e confiança em torno de um cenário de menor risco inflacionário, eleva-se a probabilidade de o Copom antecipar o ciclo de corte de juros e permitir que os efeitos da política monetária sobre o crescimento ocorram de modo mais rápido. Sem medo de errar, o BC brasileiro passará a atuar como a maioria dos seus congêneres internacionais.
Por causa da paralisia imposta às operações de comércio exterior pelo feriado pelo Dia de Martin Luther King Jr. nos EUA, o mercado interbancário de câmbio registrou ontem o seu segundo pior movimento do ano, de US$ 590 milhões. O mais baixo até agora foram os US$ 530 milhões negociados no dia 9. E, ao contrário do que vinha prevalecendo em dias de baixa liquidez, desta vez os especuladores \”comprados\” não conseguiram puxar os preços. E o dólar fechou cotado a R$ 2,3320, em desvalorização de 0,46%. A liquidez acanhada não inibiu o BC. Além de vender US$ 66 milhões à vista, iniciou ontem a rolagem dos US$ 10,2 bilhões em contratos de swaps cambiais que irão vencer no próximo dia 2. Colocou 51 mil contratos novos, no valor de US$ 2,514 bilhões.