A ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira está tirando o sossego do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Desde que foi demitida, há um mês, ela tem fustigado publicamente o ex-chefe a divulgar os “reais motivos” da sua retirada do cargo, que ocupou por pouco mais de 11 meses. Os técnicos fiéis a Lina insinuam que ela caiu por resistir ao uso político do órgão.
Segundo a versão deles, o Palácio do Planalto estaria incomodado com a fiscalização a grandes empresas, potenciais financiadoras da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na corrida à Presidência da República em 2010. O pente fino nos negócios da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), também teria descontentado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A demissão se deu no auge da crise levantada pela investigação de uma manobra contábil da Petrobras, que resultou na criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a ser usada como palco pela oposição. Por mais que Lina cerre o tiroteio contra Mantega, o ministro não tem comprado a briga. A confirmação da dispensa ocorreu só quatro dias após o vazamento da notícia. Ainda assim, Mantega se recusou a dizer os motivos.
férias. Sem explicações, Mantega comunicou a Lina que precisaria do cargo, nomeou interinamente o secretário-adjunto, Otacílio Cartaxo, e tirou dez dias de férias. Esperava que o fogo baixasse, mas a secretária defenestrada não deixou o assunto sair das páginas dos jornais. Para fugir ao cerco, o ministro já até afirmou que não tem satisfação a dar sobre o assunto.
Os próprios auditores da Receita cobram uma posição mais firme de Mantega sobre os destinos do órgão. Eles não aceitam que uma estrutura eminentemente técnica, que presta uma função essencial para o funcionamento do Estado, seja jogada de uma hora para a outra no meio de uma crise política.
AUDITORES. No sindicato que representa os auditores, as declarações públicas e as ameaças veladas da ex-secretária são vistas por seus adversários como ataques de “alguém que quer aparecer”. Em pleno processo eleitoral, que escolherá o comando da entidade única que auditores-fiscais da Receita e seus colegas da extinta Receita Previdenciária decidiram criar, as reaparições de Lina ajudam a inflamar a guerra interna. As chapas que disputam a hegemonia dentro do Sindifisco, nome da nova entidade, travam um duro debate em torno de bandeiras que durante o “reinado” de Lina eram prioridades.
Mantega estaria apenas aguardando a definição do quadro político interno para anunciar o nome do substituto definitivo da ex-secretária. “Ela resolveu virar uma mulher bomba. Nunca vi uma pessoa sair atirando tanto”, diz um técnico da Receita. Colaborou Deco Bancillon