Para ele, países desenvolvidos crescem pouco e Brics podem ter economias superaquecidas
As economias avançadas enfrentarão anos de crescimento anêmico e o risco de uma recaída na recessão, enquanto seus cidadãos terão de lidar com a lenta recuperação do emprego e com os governos altamente endividados, disse o economista Nouriel Roubini — conhecido como Doutor Apocalipse e famoso por ter previsto a crise imobiliária dos Estados Unidos. Ele participou de um seminário em São Paulo.
Segundo ele, a crise fiscal na Zona do Euro abalou os mercados financeiros nas últimas semanas, com os investidores se preocupando com os possíveis efeitos recessivos das medidas de austeridade impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela União Europeia para acesso ao pacote de resgate de US$ 1 trilhão.
“As condições do mercado de trabalho continuarão muito fracas em algumas economias avançadas”, disse o economista. “A poupança terá de subir mais rápido que o consumo nos próximos anos. Essa é a razão pela qual o crescimento continuará anêmico”, disse Roubini, que preside a consultoria RGE Monitor.
Aos emergentes
O economista não poupou elogios aos países emergentes, mas ressaltou a necessidade de retirada dos estímulos econômicos para prevenir a formação de bolhas nos preços dos ativos. E não escondeu que avalia haver um risco de superaquecimento nos Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China. Roubini chamou a atenção ainda para o aumento na concessão de crédito, sugerindo uma regulação mais rigorosa e muita prudência na oferta de crédito para evitar bolhas na economia.
E alertou para o risco de a economia brasileira se tornar altamente dependente da exportação de commodities. O economista também chamou a atenção para a excessiva entrada de capital no país, que pode hipervalorizar o real. Em relação ao desequilíbrio nas contas públicas, Roubini aconselhou eficiência do gasto público. E para manter um crescimento sustentável, de 6% a 7% ao ano, a receita de Roubini é clara: além de eficácia nos desembolsos, melhora na qualidade da educação, melhor distribuição de renda e parcerias público-privadas.
Lula não quer o efeito sanfona
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que é “gostoso” ver a economia crescendo entre 5% e 6%, mas que não quer uma expansão muito acima desse patamar para evitar o efeito sanfona. “É gostoso crescer a 4%, 5%, 6%, mas também não queremos crescer demais porque não queremos ficar como uma sanfona, que vai a 10%, volta a 2%. Queremos um crescimento sustentável que possa durar 10 anos, 15 anos”, disse Lula. As declarações foram feitas após o presidente criticar economistas que apostavam que o PIB potencial do Brasil era de 3%. “Esse país aprendeu a tomar conta do seu nariz, a gostar de si próprio, aprendeu a gostar de estabilidade econômica, do controle da inflação, da distribuição de renda e de acabar com o PIB potencial que era uma imbecilidade de alguns economistas que achavam que a economia brasileira não poderia crescer acima de 3% que a casa caía.” Pesquisa do Banco Central junto ao mercado projeta crescimento de quase 6,5% da economia brasileira neste ano, mas já há bancos vendo expansão superior a 7%.