O Banco Central comprou US$ 158 bilhões de reservas cambiais com as intervenções realizadas de 2004 até agora e contabilizou, a título de diferencial de taxa de juros externa e interna, um custo de carregamento de cerca de US$ 36 bilhões durante esse período.
Neste ano, as intervenções de compra do BC, que só começaram em junho, representaram um acréscimo de US$ 10,8 bilhões na conta das reservas. O custo de manutenção desses recursos – dado pela esterilização, mediante a emissão de títulos públicos, dos reais gerados na aquisição dos dólares – foi modesto: US$ 40 milhões. A avaliação corrente no governo é que a política de acumulação deve continuar e não será surpresa se o país encerrar 2010, último ano da gestão Lula, com um caixa de US$ 300 bilhões em moeda estrangeira.
Na medição dos custos e benefícios dessa estratégia, a balança ainda pesa mais para os benefícios. “É inegável que as reservas têm a função de um seguro adicional para o país, junto com o regime de câmbio flutuante, para amortecer crises”, comentou uma fonte qualificada da área econômica. “Não fossem os US$ 200 bilhões em 2008, teríamos passado um aperto danado no auge da crise mundial”, completou um outro graduado funcionário do governo.
O fato é que as intervenções do BC constituem-se, hoje, na principal arma para atenuar a tendência de apreciação do real, além de diminuir a volatilidade da taxa de câmbio. Pode-se dizer que, apesar de todos os demais argumentos, esse é, atualmente, o mais forte para justificar a continuidade da acumulação de reservas.
Depois da taxação do IOF sobre ingresso de capitais, há um vasto campo de medidas sendo explorado pelos economistas oficiais para conferir mais liberdade ao mercado de câmbio. São, porém, ações pontuais e de efeito macroeconômico bastante limitado. Ou seja, não há um novo arsenal de providências em curso capaz de frear a apreciação da moeda ou, como gostaria o ministro da Fazenda, Guido Mantega, de levar a cotação do dólar a R$ 2,60.
As informações sobre equalização cambial fornecidas mensalmente pelo BC, no âmbito dos resultados da política fiscal, indicam que neste ano, até setembro, houve um custo de R$ 112 bilhões (cerca de US$ 65 bilhões) decorrente da estratégia de acumulação. Essa cifra, porém, refere-se apenas ao efeito da apreciação do real frente ao dólar.
Assim como a depreciação cambial de 2008 gerou um lucro de R$ 171,4 bilhões ao Tesouro Nacional, a valorização ocorrida este ano está produzindo um prejuízo que deve, ao final do exercício, se aproximar do resultado de 2008. Ou seja, os ganhos de 2008 tendem a ser integralmente anulados pelas perdas de 2009.
Os técnicos oficiais explicam que os efeitos da valorização ou desvalorização da moeda representam variações patrimoniais que vêm sendo apropriadas contabilmente e só resultariam em ganhos ou perdas efetivas se o BC tivesse vendido as reservas. Os custos do diferencial de juros entram nos cálculos do déficit nominal. Perdas ou ganhos com a variação cambial são contabilizados como ajuste patrimonial na dívida interna líquida.
Para dimensionar o peso do diferencial de juros internos e externos na política de acumulação de reservas internacionais, que teve início em 2004, os técnicos usaram a taxa implicita de rentabilidade das reservas (os juros recebidos com as aplicações dos dólares no mercado externo num mês sobre o estoque do mês anterior) e a confrontaram com a taxa de juros básica interna, a Selic. Considerou-se, para esse cálculo, as reservas constituídas somente por intervenções do BC. Não entrou na conta a moeda estrangeira adquirida de outras formas, como por meio de emissões de bônus ou por apropriação de juros, dentre outras, pois essas não produzem impacto monetário na economia.
Esse método, admitem os especialistas do governo, se traduz numa conta aproximada. A forma mais acurada para se fazer esses cálculos seria verificando a que taxa de juros cada valor de cada intervenção foi aplicada, externamente, e comparando esse dado com a Selic. Ao usar a rentabilidade implícita, corre-se o risco de superestimar um pouco o custo, na medida em que inclui ativos com baixa taxa de retorno (como, por exemplo, ativos junto ao Fundo Monetário Internacional e depósitos de curto prazo).
Não é tarefa simples comparar os custos de se manter reservas elevadas, que têm sido consideráveis dado os juros internos serem muito superiores aos internacionais, com o conforto de o país ter este seguro para enfrentar os momentos turbulentos no mundo. Um é facilmente mensurável. O outro, não.
Também é difícil estabelecer qual o patamar de reservas a partir do qual não se colhe mais benefícios. Submetidos a essa pergunta, vários economistas influentes do governo disseram que as reservas de US$ 232 bilhões ainda estão longe desse valor. O importante é comprar dólares para segurar o real e, com uma medida aqui e outra ali, evitar uma apreciação maior da moeda.