Os relatos de terceiros sobre brigas de casais na internet aumentaram 431% desde o início do isolamento social provocado pela pandemia do coronavírus, mostra um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FSBP) em parceria com a empresa de pesquisas Decode Pulse.
No total, foram analisadas 52.315 menções no Twitter, das quais 5.583 indicavam a ocorrência de violência doméstica contra mulheres.
Neste domingo (19), o G1 mostrou como a violência física e sexual contra mulheres pode estar aumentando durante o isolamento. Além disso, o período de pandemia impacta de maneira mais severa na vida delas, pelo desemprego e pela própria violência, por exemplo. Grupos de mulheres têm se unido para arrecadar dinheiro e ajudar as mais vulneráveis.
No estudo do FBSP sobre brigas de casais, além do aumento de mensagens na rede social, foi verificado que:
25% dos relatos foram feitos às sextas-feiras;
53% foram publicados à noite ou na madrugada, entre 20h e 3h;
67% dos relatos foram de mulheres.
Segundo o Fórum, a pesquisa foi feita após vários países registrarem aumento nos casos de violência contra as mulheres, desde que a pandemia do novo coronavírus se espalhou pelo mundo.
“A partir da análise exclusiva dos métodos tradicionais de pesquisa, às vezes é difícil obter uma estimativa correta de casos, porque as mulheres têm medo de falar, ainda mais confinadas com seus potenciais agressores. Por isso decidimos escutar o que seus vizinhos e parentes estavam dizendo nas redes, e observamos a variação dos relatos”, afirma Renato Dolci, CEO da Decode Pulse.
Ato expõe imagens de mulheres vítimas de feminicídio no Cariri em novembro de 2019 — Foto: Toni Sousa/Arquivo pessoal Ato expõe imagens de mulheres vítimas de feminicídio no Cariri em novembro de 2019 — Foto: Toni Sousa/Arquivo pessoal
Ato expõe imagens de mulheres vítimas de feminicídio no Cariri em novembro de 2019 — Foto: Toni Sousa/Arquivo pessoal
O estudo verificou ainda que as vítimas confinadas em casa estão com dificuldades para denunciar seus agressores, pois, em geral, os casos de lesões corporais dolosas demandam a presença física das vítimas na hora de registrar o boletim de ocorrência (BO).
A pesquisa levantou números dos BOs em cinco estados e mostrou que somente no Rio Grande do Norte houve um aumento dos registros. Entre março de 2019 e março de 2020, as denúncias de violência doméstica contra mulheres tiveram a seguinte variação:
“As mulheres que estão confinadas podem estar encontrando dificuldades para fazer o registro das ocorrências, uma vez que a principal porta de entrada para denunciar esses crimes são as delegacias de polícia”, observa a diretora-executiva do Fórum, Samira Bueno.
“Por isso é muito importante que governos e sociedade civil organizada atuem juntos diversificando os canais de atendimento às mulheres em situação de violência”.
O FBSP também fez levantamento sobre feminicídio e homicídios de mulheres com dados fornecidos pelas secretarias estaduais de Segurança de São Paulo, Pará, Acre, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Rio Grande do Norte.
A maioria dos números apresentou crescimento na comparação entre os meses de março de 2019 e março de 2020, indicando que a violência doméstica e familiar está em ascensão.
No Mato Grosso, os registros de feminicídio saltaram de 2 para 10, um aumento de 400%.
Em São Paulo, houve aumento de 46,2% dos feminicídios, de 13 para 19. Já as vítimas de homicídio no estado foram de 38 para 41 mulheres, crescimento de 7,9%.
No Rio Grande do Norte, os homicídios de mulheres se mantiveram estáveis, com 7 casos em cada mês, mas os feminicídios saltaram de 1 para 4 casos.
O Rio Grande do Sul enviou apenas os números de feminicídio, que se mantiveram estáveis em março, com 11 casos.
No Pará, os feminicídios também se mantiveram estáveis em março, mas no primeiro trimestre o crescimento foi de 185%, passando de 7 para 20 vítimas, entre 2019 e 2020.
Já no Acre ocorreu uma pequena redução dos homicídios de mulheres, de 3 para 2 casos, mas os feminicídios passaram de 1 para 2.
“Os dados oficiais e a pesquisa digital indicam o aumento da violência doméstica e a dificuldade que as mulheres têm tido em acessar os equipamentos públicos presencialmente. É fundamental que sejamos capazes de inovar tanto nos mecanismos de denúncia, que podem ser feitos por terceiros, quanto no atendimento e orientação a estas mulheres”, diz o estudo.