A expectativa de ingresso de até US$ 25 bilhões na economia brasileira ainda este ano, entre emissões de IPOs (oferta pública inicial de ações) e captações externas, está na raiz da mais recente valorização do real frente ao dólar. Só em setembro a apreciação do real foi de 6,24% e a taxa, de R$ 1,77 ontem, a menor dos últimos doze meses.
A se confirmar esse volume de ingresso de capitais nos próximos três meses, o balanço de pagamentos encerrará o ano com superávit na casa dos US$ 40 bilhões ou mais, cifra equivalente à metade do superávit de 2007, ano em que o balanço de pagamentos teve saldo recorde, adicionado às reservas cambiais, de US$ 85 bilhões. Este ano as reservas podem chegar a US$ 250 bilhões.
Técnicos do Ministério da Fazenda e do Banco Central trabalham com um intervalo de US$ 15 bilhões a US$ 25 bilhões entre emissões novas e captações e avaliam que a antecipação, pelo mercado, desse volume “cavalar” de moeda estrangeira no país é o que mais está motivando a apreciação do real (além da própria desvalorização do dólar no mercado internacional).
Na avaliação de uma alta fonte do governo, “é auspicioso” que apenas um ano após a maior crise global dos últimos 80 anos, o Brasil esteja em situação de tal conforto. Ontem o Tesouro Nacional captou mais US$ 1,25 bilhão no exterior por 30 anos.
“O Brasil está na moda”, comentou uma importante fonte da área econômica do governo. Na verdade, há o elemento “moda”, que pode ser passageiro, e há uma mudança de visão estrutural com relação ao país. Não é possível, contudo, separar o que é uma coisa e outra.
O fluxo cambial até dia 25 não é suficiente para justificar a valorização do real no mês. O movimento foi positivo em US$ 1,06 bilhão, puxado basicamente pelos contratos financeiros, já que no comercial houve déficit de US$ 2,55 bilhões decorrentes da fragilidade das exportações, por causa, muito provavelmente, da apreciação da taxa de câmbio. Os contratos de exportações somaram apenas US$ 8,1 bilhões, contra US$ 10,66 bilhões de importações. No financeiro, as operações foram positivas em US$ 3,61 bilhões (com US$ 25,84 bilhões de compras e US$ 22,23 bilhões de vendas de moeda).
Considerando que as intervenções do Banco Central retiraram do mercado US$ 3,24 bilhões, o movimento de câmbio líquido nesse período foi, na realidade, negativo em US$ 2,180 bilhões.
O BC, através de leilões, extraiu do mercado de câmbio, portanto, o equivalente ao triplo do fluxo registrado até o dia 25. Ainda assim, o dólar “derrete”.
A posição vendida em câmbio dos bancos, segundo dados divulgados ontem pelo BC, deve ter chegado a US$ 3,3 bilhões até o dia 25, o que representa um aumento de US$ 2,1 bilhões no endividamento em dólar do sistema sobre o registrado em agosto. Situação que reforça a tese de que as instituições bancárias estão, de forma oportuna, se preparando: “O mercado está abrindo posição vendida “spot” e se posicionando para o fluxo que vai vir”, disse um especialista do governo.
No Ministério da Fazenda, avalia-se que a baixa da cotação para aquém de R$ 1,80 não é uma necessariamente uma nova tendência, mas “uma bolha” formada por esse movimento do mercado, de precificação de um fluxo futuro substancial de moeda estrangeira no país. “O determinante da taxa não está se dando no mercado spot, mas no de derivativos”, observou um outro técnico do governo.
Parece claro, portanto, que a valorização do real decorre muito mais de fatores domésticos do que da desvalorização do dólar no mercado externo. O dólar teve uma desvalorização de 6,66% frente ao real em setembro e de 31,72% no acumulado do ano. Em relação ao euro, a depreciação foi de 2,17% no mês passado e de 5,57% de janeiro a setembro. Relativamente ao rublo (moeda russa), a desvalorização do dólar foi de 6,07% no mês passado e de 1,86% no ano.