O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, visitará a Casa Branca na sexta-feira (25), no momento em que os talibãs registram grandes avanços militares no país.
Alguns temem que as forças governamentais afegãs não consigam lutar contra os insurgentes após a retirada das tropas americanas, prevista para terminar em 11 de setembro. Ao mesmo tempo, as negociações de paz entre os talibãs e o governo continuam paralisadas em Doha.
Com a aceleração da retirada americana, os talibãs conseguiram avanços militares importantes e afirmam que controlam 80 dos 421 distritos afegãos.
Esta semana, os insurgentes assumiram o controle do posto de fronteira de Shir Khan Bandar (norte), a principal rota de saída do Afeganistão para o Tadjiquistão, vital para as relações econômicas com a Ásia central.
Os talibãs acusam as forças afegãs de abrir mão das armas ou de abandono dos postos sem combate. Para o governo, esta é uma retirada tática de posições isoladas para a concentração em locais estratégicos. Porém, mesmo quando entra em combate, o Exército afegão sofre muitas baixas.
Diante do avanço dos insurgentes, Ghani substituiu na semana passada os ministros do Interior e da Defesa. Muitos analistas, no entanto, consideram que ele está ficando sem opções.
Isto não significa que inevitavelmente os talibãs assumirão o controle do país. Se o Exército for bem comandado, os militares podem resistir nos principais centros urbanos.
\”Os talibãs reforçam seu controle ao redor das grandes cidades. Mas não necessariamente vão tentar assumir o controle destas cidades no futuro próximo. A queda de Cabul não é iminente. Os talibãs não são uma máquina invencível\”, opina Andrew Watkins, analista do International Crisis Group.
Fontes próximas ao governo descrevem um presidente cada vez mais desconectado da realidade, isolado no palácio presidencial e sem muitos amigos.
\”Ele escuta apenas três ou quatro pessoas, incluindo o chefe de gabinete, seu conselheiro de segurança nacional e, certamente, sua esposa\”, afirmou um diplomata ocidental que pediu anonimato. Ele acrescenta que Ghani \”desconfia de todos\”.
O presidente afegão espera convencer os talibãs a aceitar um papel no governo interino de união nacional, que deve preparar o país para as eleições.
Mas os insurgentes, animados com as vitórias militares, não parecem ter a intenção de continuar negociando. Pretendem recuperar o controle do país e impor o mesmo regime fundamentalista de quando governaram entre 1996 e 2001.
Recentemente, os talibãs afirmaram que preservariam \”os direitos de todos os cidadãos, homens e mulheres, à luz dos preceitos do Islã e das tradições da sociedade afegã\”.
O conservadorismo do grupo assusta alguns setores da sociedade. \”Há motivos para acreditar que inclusive se tornaram mais radicais com o passar dos anos, pelo combate às tropas estrangeiras não muçulmanas\”, afirma o analista afegão Sayd Naser Mosawi.
\”Os esforços dos talibãs para se apresentar como uma força eficaz, com a capacidade de governar o Afeganistão e conceder direitos às mulheres e às minorias não passa de uma farsa\”, completa.
Os afegãos que têm condições se esforçam para deixar o país e muitos altos funcionários já enviaram as famílias para o exterior, sobretudo para a Turquia.
Estados Unidos e outros países da Otan trabalham para fornecer vistos aos afegãos que trabalharam para eles, com o temor de que os talibãs os considerem traidores.
Os talibãs afirmam que estas pessoas não terão problemas caso se arrependam e alegam que estão dispostos a garantir a segurança dos diplomatas e dos trabalhadores humanitários.
Mas o mundo ainda recorda o comportamento brutal do grupo quando assumiu o controle de Cabul em 1996 e não confia nos insurgentes.
Muitos afegãos sonham com o fim de décadas de guerra. \”Todos querem a paz. A maioria dos afegãos nunca teve a oportunidade de viver em paz\”, declarou Mary Akrami, diretora da Rede de Mulheres Afegãs.