Caiu muito mal na Dinamarca o repentino cancelamento da viagem que o presidente Donald Trump faria ao país após ver frustrada a sua tentativa de comprar a Groenlândia. O negócio foi motivo de piada, mas era sério. De conservadores a extrema esquerda, ninguém quis ouvir a proposta. E o presidente americano não se conformou com a recusa unânime, tanto de dinamarqueses quanto de groenlandeses, arrumando mais uma rusga diplomática com um país aliado.
A ideia da aquisição sequer é nova. Em 1946, o então presidente Harry Truman ofereceu US$ 100 milhões em ouro para comprar o território autônomo da Dinamarca. Localizada entre os oceanos Atlântico e Ártico, a Groenlândia é uma ilha que só perde para a Austrália em tamanho. Durante a Guerra Fria seria estratégica para os EUA, que instalaram ali uma base militar.
Os tempos são outros. Em guerra comercial com os EUA, a China renova seu interesse na ilha e desafia o presidente americano. Com 80% de sua área coberta por gelo, o território abriga reservas de abundantes de metais de terras raras sob sua superfície. E há ainda a crença de que o aquecimento global acelerará a extração de recursos naturais e facilitará o acesso de China e Rússia ao Ártico.
Num cálculo por baixo, o “Financial Times” estimou uma possível oferta dos EUA em US$ 1,1 trilhão. Mas os groenlandeses, que por natureza já resistem à dependência da Dinamarca na defesa e na política externa, reagiram ainda com mais desprezo ao interesse de Trump.
No mesmo tom taxativo — “a Groenlândia não está à venda” –, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, e o líder da província, Kim Kielsen, não quiseram ouvir qualquer proposta. O chanceler Jeppe Kofod foi além: a ilha de 56 mil habitantes não será comprada em dólares, yuans ou rublos.
O que a premiê tratou como uma brincadeira foi encarado como prioridade e um negócio promissor pelo presidente americano. Seria a maior aquisição territorial dos EUA em mais de um século e consolidaria o presidente no patamar de um expansionista — considerado uma virtude para o magnata que construiu sua fama em ousadas transações imobiliárias.
Diante da grita geral, para tentar acalmar os ânimos, ele postou a imagem da Trump Tower dourada no que parecia ser um vilarejo do território gelado e advertiu: “Eu não farei isso na Groenlândia!” Se depender do reino da Dinamarca, não há a menor chance de os EUA fincarem a bandeira americana ali.