A reunião de quarta-feira do Copom desperta muito interesse do mercado não propriamente pelo resultado. Para os analistas, é mínima a possibilidade de haver mais uma redução da Selic. Deve ser mantida por unanimidade em 8,75%. A ansiedade em torno deste Copom talvez não seja atenuada pela nota emitida depois de encerrada a reunião. Talvez só pela ata, dia 10. O que o mercado mais quer saber é quando o BC começará a subir a Selic. Os operadores e economistas acreditam que a Selic atual de 8,75% é uma taxa conjunturalmente baixa e só se sustenta em ambiente externo recessivo. Como o mundo está saindo da recessão e o Brasil já se livrou dela antes, logo a taxa terá de encontrar o seu equilíbrio, em um patamar mais elevado. Qual é esse patamar? Na dúvida, o pregão de juros futuros da BM&F chutou lá para cima.
A curva futura de juros embute Selic levemente acima de 12% no fim do ano que vem. Ou seja, passa de três pontos percentuais o ciclo de alta do juro básico previsto para 2010. Puro exagero. Nem o próprio BC, tido como um dos mais conservadores do mundo, concorda com essa projeção embutida nas taxas spots do DI (janeiro 2010 a 8,62% e janeiro 2011 a 9,76%) e na taxa “forward” para o período, de 10,10%. O mercado está exagerando por duas razões: 1) Não tem ainda certeza absoluta (apenas sinais não inteiramente confiáveis) sobre o grau de aquecimento da economia brasileira nos próximos trimestres e os seus efeitos sobre a inflação; e 2) Não sabe ao certo o grau de contaminação da candidatura de Henrique Meirelles sobre a política monetária e, pior ainda, que tipo de atuação terá o seu sucessor quando ele deixar o BC, em outubro ou em março.
As indicações são, por enquanto, de que Meirelles só deixará o comando do Copom em março, prazo final para a sua desincompatibilização. E não em outubro, prazo limite para filiação a um partido político. O mercado prefere que saia em março e não em outubro. A sua saída já daqui a 31 dias corridos, antes portanto do Copom do dia 21 de outubro, eleva as incertezas e pode até engordar o prêmio já excessivamente obeso incorporado à curva de juros. Para que a estrutura a termo retire a componente política e passe a refletir apenas a expectativa de aquecimento em 2010 será preciso que o Copom cumpra as sinalizações, mantendo a sua credibilidade. Os analistas também desejam alguma “garantia” de que o sucessor de Meirelles preservará a ortodoxia monetária. De preferência, querem que esse compromisso seja expresso já na ata deste Copom de setembro.
Humberto Vignatti, gestor da Claritas Investimentos, não vê problema em Meirelles persistir no cargo de presidente concomitantemente à sua filiação política, desde que o BC não demonstre incoerência entre aquilo que tem sinalizado ao mercado e as decisões práticas nos próximos meses. Se o BC tomar na quarta-feira decisão incompatível com a sinalização de parada “os receios do mercado passariam a ser mais realistas”. Parte da alta da Selic de 3,4 pontos incorporada à curva decorre, segundo o gestor, desses temores. Apenas uma gestão sem surpresa da política monetária fará desaparecer esse prêmio.
Na opinião de Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, se o BC cortar novamente a Selic poderá fazer recair alguma suspeita de caráter eleitoreiro na decisão, “por mais que os fundamentos a permitissem”. No entender de Vale, esse foi o problema que o presidente do BC se colocou. “Por mais que ele insista, sempre haverá a partir de agora a suspeita das reais motivações das mudanças de política monetária”, diz.
Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Gradual Investimentos, não vê como a candidatura Meirelles será capaz de mudar o perfil do BC atual, já que o próprio governo tem bancado esse perfil durante todo o mandato. “Acredito que eles vão fugir de qualquer coisa que traga volatilidade ao mercado, já que o processo de recuperação está garantido”, diz ele. Roberto Padovani, estrategista do Banco WestLB, diz que a candidatura eleva os ruídos em torno da política monetária. “Este ruído potencializa os que naturalmente já existem em virtude de o BC não ser independente”, diz. Mas não vê isto com preocupação, nem acredita que gere danos maiores à credibilidade da política monetária. “As decisões do Copom são colegiadas e as regras de política são amplamente conhecidas”, diz.