Os bancos e gestores de fundos acreditam que o Tesouro Nacional poderá em breve lançar no mercado interno um título indexado à Selic de mais curto prazo, uma nova Letra Financeira do Tesouro (LFT), ou até mesmo um papel prefixado, uma Letra do Tesouro Nacional (LTN). Seria um esforço no sentido de ajudar o Banco Central a enxugar o excesso de liquidez de curto prazo do mercado e uma medida que contribuiria para tornar mais transparente os indicadores sobre a dívida interna. Em meio à crise, o Tesouro Nacional se recusou a aceitar taxas de juros mais altas para papéis prefixados e evitou emitir títulos de curto prazo de forma a evitar uma piora nos indicadores da dívida. E conseguiu. Se olharmos os dados da dívida pública interna mobiliária em poder do público o total de papéis que vence até 12 meses, no curto prazo, portanto, até caiu, de 32,1% em junho de 2007 para 28,67% em setembro último. Houve apenas uma ligeira piora na comparação com os 27,41% de junho do ano passado. A dívida pública interna era de total de R$ 1,199 trilhão em junho de 2007, passou para um total de R$ 1,247 trilhão em julho de 2008 e chegou ao R$ 1,386 trilhão em setembro agora. Parece que, em meio à grave crise pela qual passamos, apesar do aumento na dívida, o prazo de vencimento da dívida só teve um pequeno encurtamento.
No entanto, não é o que parece. O Tesouro recusou encurtar prazos. Nessa guerra com o mercado, no entanto, deixou de emitir R$ 299 bilhões de títulos a mais do que os vencimentos de 2007 até agora. É um resgate líquido nada desprezível, que inundou os bancos de liquidez no curto prazo. Essa dinheirama veio se juntar aos R$ 267 bilhões de liquidez decorrente da compra de dólares feita pelo Banco Central no mercado à vista. Ao comprar os dólares, o BC vende reais que acabam nas mãos dos bancos e hoje são, em sua maior parte, financiados pelo BC no curto prazo.
Essa sobra de recursos é retirada do mercado por meio de operações compromissadas do BC, empréstimos lastreados em títulos públicos. A autoridade monetária tem de pegar dinheiro emprestado dos bancos para evitar que, dado o exagero de liquidez de curto prazo, a Selic caia abaixo da meta de 8,75% ao ano. Mas acaba emprestando no curto prazo, um ano no máximo ou nem isso. Se forem consideradas essas transações do BC, é possível observar uma importante piora no prazo médio de vencimento da dívida interna. Considerando-se a atuação do BC no mercado aberto, a porcentagem da dívida com vencimento até um ano cresceu de 43,99% em junho de 2007 e de 47,23% em junho de 2008 para mais de 50% em setembro – exatos 51,83%. Ou seja, mais da metade da dívida interna vence hoje em prazos até um ano. O investidor deveria ter esses números explicitados para avaliar os reais riscos. O investidor mais qualificado até pode e deve fazer as contas, pois os números são divulgados separadamente pelo Tesouro. Mas, segundo analistas do mercado, o Tesouro deveria ou atuar diretamente, com títulos seus, ou pelo menos deixar isso mais transparente em seus comunicados. Considerando-se a atuação do BC, a dívida interna passou de R$ R$ 1,335 trilhão em junho de 2007 para R$ 1,48 trilhão em junho de 2008 atingindo um total de R$ 1,816 trilhão em setembro último.
Dólar cai de novo, apesar de trocas no BC
O dólar voltou a cair ontem 0,69%, para R$ 1,71, apesar de o Banco Central ter atuado na ponta de compra e da saída do diretor de política monetária, Mário Torós. O mercado aprova Torós, considerado grande técnico e operador, mas já contava com sua saída. Para o mercado, hoje o que importa é quem será o presidente do BC com a possível saída de Henrique Meirelles para concorrer às eleições em 2010. Ontem, os investidores foram tomados de alegria e saíram em busca do risco assim que o presidente do Fed, o Banco Central americano, Ben Bernanke, declarou que pretende manter os juros baixos por um período “estendido”, o que o mercado vê como uma previsão para o curto mas também médio prazo. Os juros para vencimento em janeiro de 2011 no mercado futuro brasileiro caíram 0,09%, para 10,26% ao ano.