Nesta última semana de agosto, os analistas do mercado financeiro irão prestar atenção máxima aos dados mais recentes sobre inflação e atividade econômica. Precisam calibrar com precisão suas expectativas para a reunião de política monetária que o Banco Central irá realizar na semana que vem. Estas projeções irão balizar as apostas que os tesoureiros de bancos e gestores de fundos farão no pregão de DI futuro até 2 de setembro, data da antepenúltima reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom). Nada está de antemão decidido, apesar das indicações fornecidas na ata de julho de que, sem novas surpresas positivas, seria muito difícil o BC persistir mais um pouco no ciclo de afrouxamento monetário iniciado em janeiro. Os especialistas, escaldados em ver suas previsões contrariadas pelos fatos, não descartam tais surpresas.
O foco irá se concentrar nos vários índices de inflação que serão divulgados – sai hoje a terceira semana do IPC-s de agosto; amanhã a terceira quadrissemana do IPC-FIPE e (o mais aguardado) o IPCA-15 referente a agosto; e na sexta-feira o IGP-M fechado do mês – e nas expectativas inflacionárias coletadas pelo Boletim Focus do BC. O Bradesco prevê, para o IPCA-15, alta de 0,18%. “Os núcleos devem permanecer baixos, por conta de desaceleração em vestuário e pressão controlada de duráveis”, diz relatório do departamento econômico do banco. O economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles, acredita que a mediana das projeções do Focus para a variação do IPCA deste ano deve ficar estável (4,37%) em relação ao apurado na pesquisa passada, após três semanas de revisão para baixo, à espera da divulgação do IPCA-15. “De qualquer forma, o viés continua sendo de baixa, diante das informações mais favoráveis para a inflação na margem”, diz o economista. Para 2010, ele também espera manutenção da mediana para o IPCA em relação à pesquisa anterior (4,30%). Esta tendência à estabilidade pode mudar se o IPCA-15 vier mais baixo que a expectativa.
A semana será fraca em relação à indicadores de atividade. Além dos índices de inflação, os dados mais relevantes virão das notas técnicas do BC relativas a julho : setor externo amanhã, crédito na quarta-feira e fiscal na quinta. Estas duas últimas podem ter alguma interferência na reunião do Copom na hipótese de o crédito estar mais aquecido que o esperado e o setor fiscal mais deteriorado que o previsto. Sem novos dados sobre atividade, tende a persistir a impressão dos analistas de que a economia brasileira se recupera mais em função do consumo interno do que da produção, investimento e vendas externas. Falta dimensionar o impacto inflacionário desse crescimento baseado em consumo. O que se sabe com certeza é que o câmbio apreciado ajuda a debelar focos localizados de pressão inflacionária. O dólar cai em qualquer medida considerada. Na semana passada, a moeda cedeu 1,19%. No mês, a baixa foi de 1,82%. E, no ano, de 21,55%.
Os informes mais recentes sobre o mercado de trabalho forneceram subsídios importantes a esse enfoque. “Corroborados pelo Caged, que também mostrou importante aumento do emprego formal no último mês, os resultados do mercado de trabalho em julho reforçam o quadro de aquecimento da demanda doméstica ao longo dos próximos meses. Neste contexto, o consumo interno deve continuar sendo o principal pilar da recuperação econômica brasileira, compensando a ainda fraca demanda externa e o ritmo lento de retomada dos investimentos”, diz a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli. Foram esses dados sobre emprego que motivaram o mercado futuro de juros da BM&F a rever para cima as projeções de juro com base na suposição de que o Copom irá manter a Selic em 8,75% na semana que vem. A taxa do swap de 360 dias subiu na semana passada de 9,03% para 9,07%. Mas ainda está distante da taxa de abertura do mês, de 9,18%.
O fato é que se lá fora os mercados ainda discutem se o pior da crise já de fato passou, no Brasil não há dúvida de que a crise ficou para trás. Em relação ao Brasil, “a discussão será, daqui para frente, qual a velocidade da recuperação”, diz o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Octavio de Souza Leal. Na agenda americana da semana há indicadores de atividade importantes, a começar, hoje, pelo CFNAI da regional do Fed de Chicago. Amanhã, será a vez do Fed de Richmond divulgar o seu tradicional índice de manufatura.